O jogador de futebol americano Damar Hamlin está em estado crítico após sofrer uma parada cardíaca durante um jogo da NFL (Liga Nacional de Futebol dos Estados Unidos) na última segunda-feira (2/1).
O atleta de 24 anos, parte da defesa da equipe do Buffalo Bills, caiu no chão após colidir com um adversário do Cincinnati Bengals. Ele chegou a se levantar, e na sequência, sofreu o que aparentava ser um desmaio.
Sua equipe, o Buffalo Bills, confirmou em um comunicado que o atleta sofreu uma parada cardíaca, mas que os batimentos do coração foram restabelecidos em campo.
Hamlin recebeu atendimento médico por mais de 30 minutos antes de ser levado a um hospital de Cincinnati, cidade onde ocorreu a partida.
Enquanto os profissionais de saúde tentavam reanimar Hamlin, seus companheiros de equipe choravam e rezavam, o que deu ao público uma noção da gravidade do quadro.
A NFL cancelou o jogo da noite cerca de uma hora após o incidente.
De acordo com um estudo de 2016, há anualmente entre 100 e 150 mortes após uma parada cardíaca em competições esportivas nos Estados Unidos.
Hamlin permanece em estado grave.
Morte súbita abortada
O atleta do Buffalo Bills teve, após ser reanimado em campo, o que especialistas chamam de “morte súbita abortada”.
A morte súbita, também chamada pelo termo leigo “mal súbito”, acontece quando o coração para de bater de forma repentina.
Segundo uma pesquisa do Incor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas de São Paulo), em 90% dos casos a arritmia cardíaca (alteração do ritmo dos batimentos do coração) é a responsável pela morte súbita.
Entre jovens, esse distúrbio do ritmo cardíaco que pode levar à parada pode ocorrer por conta da liberação de adrenalina durante a prática de atividade física associada a anomalias no coração ou ao uso indevido de drogas ilegais que danificam o funcionamento do coração — não foi divulgada nenhuma informação relacionada a Hamlin sobre esses casos.
É importante ressaltar, aponta Fátima Cintra, cardiologista da SBC (Sociedade Brasileira de Cardiologia) especialista em arritmias, que a prática de esportes por si só não aumenta o risco de morte súbita.
“São pessoas com alguma condição prévia que têm o risco aumentado. Em caso de atletas que vão jogar em nível competitivo, é importante ter os exames em dia para detectar qualquer fator que possa contribuir para problemas cardíacos.”
Cintra cita que outra possível causa do quadro em atletas é chamada de “commotio cordis“, que significa, em latim, “agitação do coração”.
“É uma causa secundária de arritmia cardíaca grave, chamada de fibrilação ventricular, que acontece após um trauma direto na região anterior do tórax.”
“Pela imagem do trauma e também pelo atleta continuar em estado grave, embora não tenhamos detalhes médicos do caso, não podemos descartar a hipótese de que a parada cardíaca foi causada pelo contato”, complementa Pedro Farsky, cardiologista e doutor pela Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo).
Segundo o especialista, entre as principais causas de morte súbita para adultos com mais de 35 anos estão doença arterial coronária (causada pelo acúmulo de gordura nas artérias), doença isquêmica do coração (quando uma parte do coração não recebe sangue suficiente para bombear de maneira adequada), miocardiopatia hipertrófica (hipertrofia do coração) e miocardites (inflamação do músculo do coração).
Cada minuto é crucial
A morte cerebral inicia-se após alguns minutos da parada cardíaca, e o atendimento imediato é essencial para manter a pessoa viva e preservar suas funções normais.
Na maioria das vítimas, o quadro pode ser revertido em poucos minutos por meio de um desfibrilador que emite choque elétrico a fim de restabelecer o ritmo do coração.
“Além de ser essencial ter os equipamentos certos em um caso como esse, é necessário ter profissionais que saibam usá-los corretamente, porque cada minuto é crucial para salvar o paciente”, indica Cintra.
Quem já teve o quadro e sobreviveu deve ser monitorado de perto nos primeiros dias após o episódio e seguir com acompanhamento médico ao longo da vida.
“A prioridade é identificar e reverter a causa. Em casos de arritmia, podemos colocar um desfibrilador automático, do tamanho de um marca-passo, internamente, no coração do paciente. O aparelho serve para identificar a arritmia e iniciar um choque automático”, diz Farsky.
No apagar das luzes de 2022, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou uma nova projeção para a população brasileira: 207,8 milhões de habitantes.
O dado — uma estimativa feita a partir do Censo ainda inacabado de 2022 —, chamou a atenção por ser mais de 7 milhões inferior à projeção populacional de 215 milhões de habitantes, feita pelo próprio IBGE, com base na última edição do Censo, de 2010.
O número menor do que a projeção já era esperado, devido à pandemia, à migração de brasileiros para o exterior e à gradativa redução no número de nascimentos. O fato de a projeção estar 12 anos distante do último Censo e de não ter sido realizada uma contagem populacional prevista para 2015, também contribuem para a discrepância entre os números.
Mas, após a publicação do dado, técnicos do IBGE afirmam que o número pode estar subestimado e revelam que sua divulgação foi controversa dentro do próprio instituto.
“Fizeram uma conta de padaria com base no que já está feito no Censo, mas o método é bem duvidoso, teve bastante discordância sobre isso”, relata um técnico do IBGE que conversou com a BBC News Brasil sob condição de anonimato.
“Isso é uma invenção, nenhum país no mundo faz o que eles fizeram”, diz outro técnico.
“Vejo com muita preocupação. Primeiro, porque foi uma metodologia que nunca foi aplicada em lugar nenhum do mundo. É aquilo que a gente chama de uma jabuticaba”, afirma.
“E pior: estão usando duas metodologias diferentes para tratar entes federados, que são os municípios, de mesmo porte populacional. Então vai ter município que o resultado dele é o Censo e município que o resultado é uma estimativa. Ninguém vai ficar satisfeito e isso vai gerar ações na Justiça”, acrescenta este segundo técnico.
“Então há um aspecto legal insustentável e um aspecto metodológico também muito frágil.”
Cimar Azeredo, presidente interino do IBGE, afirma que as críticas não procedem, que o instituto tem muita transparência em seus processos, seguindo à risca os princípios fundamentais das estatísticas oficiais.
Ele afirma ainda que os dados foram discutidos com os técnicos, submetidos a uma comissão consultiva composta de 13 membros e que são a melhor informação possível, se comparada com os dados populacionais projetados a partir do Censo anterior, por apresentarem maior grau de acuidade.
Menos dinheiro para municípios
Poderia ser apenas uma discordância entre visões técnicas distintas, mas a contagem populacional tem consequências práticas. Isso porque municípios que perdem população passam a receber menos dinheiro do governo federal.
Ao fim de todos os anos, por obrigação legal, o IBGE encaminha ao TCU (Tribunal de Contas da União) a relação da população de cada um dos municípios brasileiros. Os dados são usados para calcular as quotas do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) para o ano seguinte.
Pelas regras do fundo, Estados e Distrito Federal recebem 22,5% da arrecadação do IR (Imposto de Renda) e do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados). Esse valor então é distribuído aos municípios, de acordo com o número de habitantes.
O repasse é estabelecido com base em faixas populacionais e as diferentes faixas têm direito a valores maiores quanto maior a população.
Assim, se um município perde população e, com isso, muda de faixa, ele acaba perdendo recursos. Isso afeta particularmente os municípios menores, que têm populações pequenas demais para gerar arrecadação própria e têm no FPM sua principal fonte de receita.
A Confederação Nacional dos Municípios (CNM) estima que 702 municípios perderão recursos com base na estimativa populacional da prévia do Censo, somando mais de R$ 3 bilhões. Os Estados com mais municípios impactados são Bahia (99), Minas Gerais (83) e São Paulo (72).
Por que municípios vão à Justiça
Em anos em que não há Censo, o IBGE envia ao TCU, para o cálculo das quotas do fundo, a população dos municípios com base na projeção populacional. Em 2022, no entanto, com o Censo ainda incompleto, o instituto optou por uma imputação a partir dos dados parciais da pesquisa.
A CNM argumenta que os municípios estão protegidos por uma lei (Lei Complementar 165/2019) que, na interpretação da entidade, determinou o congelamento dos coeficientes do FPM para perdas até a finalização do Censo.
O texto da lei, contudo, não fala explicitamente em “finalização”, mas apenas “até que sejam atualizados com base em novo censo demográfico”. O TCU considerou que o IBGE enviou informações com base no novo Censo e, por isso, recalculou as quotas do fundo, com perdas para os municípios que tiveram redução de população.
Por discordar dessa interpretação, a CNM está recomendando que todos os municípios afetados recorram no TCU. Alguns deles já contestam a decisão do órgão na Justiça, tendo recebido liminares favoráveis, segundo a entidade representativa.
“O governo não fez a recontagem populacional em 2015, não fez o Censo em 2020 e 2021. Foi fazer agora, de maneira muito claudicante. Isso soa para nós como uma irresponsabilidade total do governo, que não cumpre a lei”, diz Paulo Ziulkoski, presidente da CNM.
“Já temos liminares suspendendo isso daí [a decisão do TCU] e olha a confusão que vão armar no Brasil. A cada município que tiver uma liminar concedida, será necessário recalcular a quota dele e de todos os demais. Uma quota de um município mexe em toda a estrutura do Estado inteiro”, alerta Ziulkoski.
A BBC News Brasil pediu um posicionamento ao TCU quanto às críticas da CNM. O tribunal respondeu que “eventuais contestações que vierem a ser apresentadas pelos municípios ao Tribunal de Contas da União serão naturalmente avaliadas pela Corte, como ocorre em todos os anos, nos termos de sua Lei Orgânica e do seu regimento interno. Esses questionamentos serão analisados somente em relação ao cálculo e não às estatísticas utilizadas, que são da competência do IBGE e, por definição legal, o TCU não possui qualquer ingerência.”
O atraso no Censo que levou a esse imbróglio
Programado para acontecer em 2020, o Censo teve de ser adiado por conta da pandemia de covid-19. Em 2021, sofreu novo adiamento, por falta de orçamento — mais de 90% da verba prevista foi cortada na tramitação da lei orçamentária no Congresso.
Após determinação do STF (Supremo Tribunal Federal), o governo federal liberou R$ 2,3 bilhões para realização da pesquisa, 26% menos que os R$ 3,1 bilhões inicialmente previstos.
Técnicos e ex-presidentes do IBGE alertaram à época que o valor seria insuficiente, mas a diretoria do instituto — então sob a presidência de Susana Cordeiro Guerra, indicada de Paulo Guedes para o cargo — tomou medidas como reduzir o questionário e seguiu com o Censo assim mesmo.
A pesquisa em campo teve início em agosto de 2022, com previsão de ir até o fim de outubro. Com dificuldade para contratar recenseadores devido à baixa remuneração, o término da coleta foi adiado para o começo de dezembro, depois para o fim do ano, novamente para janeiro e, agora, o instituto já cogita esticar a pesquisa até fevereiro.
Diante dos sucessivos adiamentos, o IBGE chegou ao fim de 2022 — quando tem a obrigação legal de encaminhar ao TCU a relação da população de todos os municípios brasileiros — sem os números finalizados do Censo. Com cerca de 84% da população recenseada até 25 de dezembro, o órgão de pesquisa optou por divulgar uma “prévia do Censo”, estimativa feita a partir dos dados já coletados.
‘207 milhões é pouco’, diz demógrafo
Não são apenas os técnicos do IBGE que questionam os 207 milhões de habitantes divulgados pelo instituto na prévia do Censo. O demógrafo José Eustáquio Diniz Alves, professor aposentado da Escola Nacional de Ciências Estatísticas (Ence) do IBGE, também considera o número baixo e avalia que o resultado pode sinalizar problemas de cobertura do Censo.
Para embasar sua opinião, Eustáquio cita os dados de nascimentos e óbitos do Ministério da Saúde. Entre agosto de 2010 e julho de 2022, período de referência entre os dois Censos, nasceram 34,4 milhões de crianças e morreram 16 milhões de pessoas, o que resulta em um crescimento vegetativo da população de 18,3 milhões, diz o demógrafo.
Como a população em 2010 era de 190,8 milhões, conforme a edição do Censo daquele ano, seriam 209 milhões de pessoa em 2022, considerando apenas o crescimento vegetativo.
O número da população poderia ser menor do que isso, caso houvesse uma migração significativa de brasileiros para o exterior, diz Eustáquio. Mas, embora muitos brasileiros tenham deixado o país no período, particularmente para Europa e Estados Unidos, também teve muita gente entrando, como os venezuelanos, cuja presença elevou a população de Roraima em 41% em 12 anos, por exemplo.
Por esse mesmo cálculo, que considera fecundidade, mortalidade e migração, o demógrafo observa que a população de 2010 também pode ter sido subestimada e poderia ser mais próxima de 194 milhões. Assim, com o crescimento vegetativo de 18 milhões, a população em 2022 poderia ser mais próxima de 212 milhões.
“Então, o que eu esperava para esse Censo é algo entre 209 milhões e 212 milhões de habitantes. Cheguei a escrever artigo dizendo que de jeito nenhum ia chegar em 215 milhões, principalmente depois da pandemia, que aumentou o número de óbitos e diminuiu o de nascimentos”, afirma. “Mas 207 milhões é pouco.”
O segundo técnico ouvido pela BBC News Brasil sob anonimato faz cálculo semelhante.
Usando dados de nascimentos e óbitos do registro civil, e dados migratórios da Polícia Federal de entradas e saídas no país, ele chega a 212 milhões de habitantes estimados para 2022.
“Ou seja, 207 milhões está muito abaixo. Algo entre 211 milhões e 213 milhões me parece muito mais razoável”, diz o técnico.
Para o professor aposentado da Ence/IBGE, o problema da prévia do Censo é ainda mais grave em nível municipal.
Ele cita o exemplo de Porto Alegre, que tinha 1,409 milhão de habitantes no Censo de 2010, 1,492 milhão em uma estimativa feita pelo IBGE em 2021 e, agora na prévia do Censo 2022, teve sua população estimada em 1,404 milhão, abaixo do Censo de 2010.
Outro exemplo é São Gonçalo (RJ), que em 2010 tinha 999,8 mil habitantes, 1,1 milhão na estimativa de 2021 e 929 milhões na prévia do Censo.
“Isso está na cara que está errado, porque o crescimento vegetativo de São Gonçalo foi de 35,7 mil pessoas no período, então a população já deveria estar acima de 1 milhão. Isso só não seria verdade se tivesse uma migração enorme de São Gonçalo para outros municípios, mas não conheço nenhuma evidência que mostre isso”, observa Eustáquio.
“Evidentemente tem problema de cobertura nesse negócio”, opina o demógrafo.
O que diz o IBGE
“Tínhamos duas opções: divulgar as estimativas de 2022 ou os dados do Censo. Estamos falando de uma estimativa que tinha como referência o Censo de 2010. Quando você se afasta muito desse Censo, a tendência vai perdendo qualidade”, afirma Cimar Azeredo, presidente interino do IBGE, que assumiu o cargo após a exoneração de Eduardo Rios Neto, com a mudança de governo.
“Além do que, o método prevê uma contagem no meio da década, que não aconteceu, o que enfraquece essa estimativa. Por isso foi tomada a decisão, já que estávamos com o Censo praticamente concluído, de imputar os dados, como fazemos em todo Censo [com a parcela da população que não pôde ser recenseada]. Utilizamos uma metodologia nova, recomendada por um estatístico da comissão consultiva, e que já vínhamos implementada há meses”, diz Azeredo, em entrevista à BBC News Brasil.
“O IBGE, por orientação metodológica, tem que escolher o melhor número para entregar ao TCU. O melhor número, sem dúvida, avaliado inclusive pela Comissão Consultiva do Censo, é o número da prévia do Censo.”
O presidente interino diz que o IBGE está muito tranquilo com os questionamentos dos municípios, porque isso acontece sempre que um município perde população.
“O fato de se ter atrasado não prejudica em nada a qualidade desse Censo”, diz Azeredo. “Vamos entregar o melhor Censo que esse país já teve.”
Perda de qualidade do Censo 2022
Diferentemente de José Eustáquio e dos técnicos do IBGE, o demógrafo Ricardo Ojima, ex-presidente da Abep (Associação Brasileira de Estudos Populacionais) e professor da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), não se surpreendeu com os 207 milhões de habitantes divulgados pelo IBGE em 28 de dezembro.
“A grande questão é que o número de nascimentos e o número médio de filhos por mulher vêm caindo mais rápido do que os cenários que se colocam para o futuro”, diz Ojima. “Isso contribui para que o ritmo de crescimento da população seja cada vez menor a cada ano.”
Ele defende a opção do IBGE por divulgar a prévia do Censo. “Não faria sentido não utilizar as coletas em municípios onde a cobertura já estava concluída ou muito avançada. A grande questão são as localidades onde falta muita gente [ser recenseada], mas a combinação da informação coletada com estimativa, eu penso que seja uma informação segura”, avalia.
Ojima, no entanto, discorda da avaliação do presidente do IBGE de que o atraso não prejudica em nada a qualidade do Censo.
“Afeta com certeza, não necessariamente em termos de volume da população, que é um dado menos complexo, mas para a qualidade das informações das características da população”, diz.
Isso porque o Censo tem uma data de referência para as perguntas: 31 de julho de 2022 — por exemplo, o recenseador pergunta: “Quantas pessoas moravam nesse domicílio em 31 de julho de 2022?”. Assim, quanto mais distante dessa data, pior a memória das pessoas e mais eventos que distorcem os dados acontecem, como mudanças de endereço e migrações.
“Se você demora seis, sete, oito meses, a informação vai se perdendo. Isso é muito ruim, prejudica a qualidade das informações”, avalia o professor da UFRN.
O melhor Censo que o país já teve?
Wasmália Bivar, economista e ex-presidente do IBGE (2011-2016), avalia que o imbróglio em torno da prévia do Censo e o atraso da pesquisa são uma espécie de “tragédia anunciada”.
“A equipe técnica do IBGE cansou de falar que para realizar o Censo, num país de 8,5 milhões de quilômetros quadrados e com uma projeção à época de 211 milhões de habitantes, era preciso um orçamento suficiente. Afinal de contas, a maior parcela do orçamento do Censo é para colocar o recenseador na porta do domicílio, treinado, equipado e com todos os sistemas testados e aprovados”, diz Wasmália.
“O que a direção fez? Cortar o questionário sem uma discussão com os técnicos, justificando o corte de orçamento da ordem de 30%. Foi muita inexperiência e uma tentativa de ignorar o que os técnicos estavam falando. Então certamente o orçamento insuficiente é o fator mais importante”, avalia a ex-presidente do IBGE.
Ela critica o argumento do IBGE de que a dificuldade de contratar recenseadores se deveria a um “mercado de trabalho muito aquecido”, lembrando que o país tem quase 40% de trabalhadores na informalidade e 23 milhões de ocupados subutilizados. Além disso, lembra Wasmália, em 2010, com um mercado de trabalho muito mais favorável e em ano de eleição (evento que gera milhares de empregos temporários), esse problema não aconteceu.
“O corte orçamentário tornou a remuneração dos recenseadores muito aquém do que mesmo um mercado de trabalho bastante precário estava oferecendo. Isso se combinou com falhas de pagamento, que gerou uma desconfiança, isso foi parar na redes sociais e muitos desistiram. Eles acabaram contratando um número insuficiente e pouco motivado de recenseadores.”
Segundo Cimar Azeredo, a previsão era de contratação de 180 mil recenseadores, mas o IBGE conseguiu chegar no máximo a 120 mil.
Questionada se é possível de fato o IBGE “entregar o melhor Censo que esse país já teve”, como promete o presidente do instituto, Wasmália se mostra descrente.
“Impossível nessas condições, com o orçamento, o número de recenseadores, o prazo que teve. Com todas as falhas de sistema de pagamento, de gestão, da ausência de publicidade. É impossível. Mas tenho certeza de que a equipe que está lá, que veste a camisa, que se compromete com a instituição, vai tentar que esse não seja o pior Censo que o país já fez.”
Uma crise política nos Estados Unidos inédita em mais de um século está impedindo que a Câmara dos Deputados escolha a presidência da Casa, em meio a uma profunda divisão dentro do Partido Republicano, que controla a maioria.
Após duas sessões legislativas tensas, na terça e quarta-feira (03/01 e 04/01), o deputado republicano Kevin McCarthy, da Califórnia, não obteve votos necessários em seis rodadas de votação na sua tentativa de ganhar a presidência da Câmara.
Na noite de ontem, depois de um recesso para tentar resolver o impasse, a Câmara votou pelo adiamento da votação novamente, desta vez para esta quinta-feira (05/01) ao meio-dia. A mesma coisa já havia acontecido na terça-feira.
O Partido Republicano e os EUA estão mergulhados no caos e na incerteza política. O novo Congresso foi eleito em novembro do ano passado e marca a retomada, pelo partido de oposição de Joe Biden, da maioria na Câmara dos Representantes.
No entanto, o candidato republicano Kevin McCarthy enfrentou uma rebelião dentro de seu próprio partido. Esta é a primeira vez em um século que um candidato à presidência da Câmara dos Deputados não consegue os votos necessários para se eleger ao cargo.
McCarthy segue como candidato por enquanto, embora não esteja claro como ele convencerá os 20 rebeldes republicanos que votaram contra ele a apoiá-lo.
“Insistiremos até vencermos”, disse McCarthy a repórteres antes da terceira votação na terça-feira, recusando-se a desistir.
Apesar do apoio do próprio ex-presidente Donald Trump, que pediu a seus colegas legisladores que votassem no deputado californiano, McCarthy perdeu em todas as rodadas.
Os republicanos rebeldes se recusam a indicar outro candidato para disputar a Presidência da Câmara no lugar de McCarthy.
McCarthy só pode perder quatro votos na Câmara, já que precisa do apoio de 218 dos 222 republicanos na Casa. Todos os 212 democratas votaram em seu líder partidário na Câmara, o deputado Hakeem Jeffries, de Nova York.
Ele enfrenta oposição de republicanos de extrema-direita, que se opõem à sua presidência por razões ideológicas e pessoais, e passaram semanas negociando concessões, como mudanças no procedimento para se remover o presidente da Câmara.
O grupo rebelde é liderado pelo republicano Andy Biggs (Arizona), que se apresentou como alternativa, e Matt Gaetz (Flórida), que passou grande parte do último mandato sob ameaça de uma investigação federal. O deputado republicano Bob Good disse que os membros de seu partido que se opõem a McCarthy “nunca recuarão”.
“Quanto mais cedo McCarthy desistir, melhor será para o país”, disse.
Resumindo a frustração com McCarthy, o popular comentarista de direita da Fox News, Tucker Carlson, disse: “McCarthy não é especialmente conservador. Ele é ideologicamente agnóstico. Seu verdadeiro eleitorado é a comunidade de lobby em Washington. Isso é enfurecedor para quem tem convicções políticas sinceras”.
Confira abaixo o que pode acontecer agora com a crise política:
1. Kevin McCarthy vence
A estratégia de Kevin McCarthy parece ser a de tentar desgastar seus rivais. Seus partidários continuarão indicando seu nome até que os oposicionistas se cansem de votar contra ele.
Se McCarthy for capaz de costurar algum tipo de acordo, ele terá de oferecer mais poder e influência a seus oponentes.
Mas quaisquer concessões acabarão por enfraquecer seu poder, tornando mais provável que ele venha a ser destituído da Presidência ao longo do ano, quando são travadas as discussões mais duras — sobre o orçamento e o aumento do teto da dívida.
McCarthy também pode esperar que os democratas se cansem da disputa e parem de comparecer às votações, diminuindo a margem necessária para que ele obtenha a maioria. Até agora, no entanto, os democratas parecem estar gostando de ver o caos republicano.
Alguns republicanos — como Ken Buck, do Colorado — estão insinuando que McCarthy deveria renunciar em favor de um candidato alternativo, como seu vice, Steve Scalise, da Louisiana.
2. Kevin McCarthy desiste
Após dois dias de derrotas, é possível que McCarthy desista. A desistência pode partir dos próprios republicanos que apoiam McCarthy.
“Estamos começando a ter algum conflito aberto no plenário e a portas fechadas”, disse Buck, que votou em McCarthy em todas as seis rodadas. “Temos que escolher um presidente e seguir em frente.”
Scalise talvez seja a escolha mais aceitável tanto para os conservadores da linha dura quanto para o resto dos republicanos da Câmara. Ele é considerado um conservador ferrenho e literalmente sangrou pelo partido, tendo sido gravemente ferido no ataque a tiros contra deputados republicanos durante um treino de beisebol em 2017. O maior obstáculo no momento é que ele não parece querer o cargo.
Outras possibilidades incluem o congressista Jim Jordan, de Ohio, e Jim Banks, de Indiana, chefe do Comitê de Estudos Republicanos. Mas nenhum dos dois parece ser capaz de unificar o partido. Byron Donalds, da Flórida, foi indicado pelos republicanos rebeldes três vezes na quarta-feira, mas o congressista novato não tem sido levado a sério pela maioria.
3. Os dois lados optam por outro nome
Democratas e republicanos na Câmara dos Representantes do Estado de Ohio se uniram na terça-feira para rejeitar um presidente da Casa mais conservador e eleger um candidato moderado. Isso também poderia acontecer na Câmara dos Deputados dos EUA?
Esse tipo de especulação começou a surgir nos últimos dias, diante do impasse político.
Don Bacon, um republicano de centro de Nebraska, já havia expressado a vontade de trabalhar com os democratas para achar um nome de consenso, caso McCarthy não consiga se eleger.
Fred Upton, um ex-congressista republicano de Michigan moderado, se apresentou como uma escolha da coalizão (não há exigência de que o presidente tenha que ser um membro atual do Congresso). E os democratas têm recebido sinalizações de vantagens para ajudar a resolver a crise — como mudanças em regras que lhes permitiriam apresentar projetos de lei ou mais poder nas comissões.
Tudo isso exigiria que um número considerável de democratas concordasse com o plano, o que no ambiente fortemente polarizado de hoje parece extremamente improvável. E qualquer republicano que trabalhe com os democratas será considerado instantaneamente persona non grata entre a maioria dos conservadores.
Mas dado que a Casa já chegou a este momento inédito na sua história, nenhuma opção é descartada por ora.
Eloy Terena assumiu como secretário-executivo do ministério dos Povos Indígenas nesta quarta-feira (4). Atendendo pedido da ministra Sônia Guajajara, o advogado sul-mato-grossense assume o cargo. Eloy disse que uma das principais pautas da pasta será a questão territorial.
“Nós recebemos esse convite com bastante honra e, ao mesmo tempo, muito ciente da nossa responsabilidade. Também agradeço a confiança depositada pela ministra em minha pessoa. O trabalho aqui é, de fato, implementar e defender os povos indígenas”, detalhou o secretário-xecutivo do ministério dos Povos Indígenas.
Eloy fez parte do Grupo de Transição entre os governos Bolsonaro e Lula. Durante o mês passado, o advogado chegou a ser cotado para chefiar o ministério.
À época, junto de outras lideranças indígenas do Brasil, Eloy entregou um levantamento com alertas e prioridades dos povos originários ao presidente Lula.
“Eu trabalhei na equipe de transição e já tinha feito vários levantamentos jurídicos sobre a questão das terras indígenas, retirada de invasores de terras indígenas e promoção de direitos sociais para as comunidades indígenas. Quero auxiliar a ministra Sônia Guajajara e buscar efetivamente que os direitos dos povos indígenas sejam preservados, especialmente o territorial”, compartilhou Eloy.
Quem é Eloy Terena?
O advogado sul-mato-grossense Eloy Terena é referência nacional da luta indigenista. Nascido na comunidade indígena AIpegue, em Aquidauana, é advogado indígena com atuação no Supremo Tribunal Federal (STF) e Organismos Internacionais.
Eloy é Coordenador do Departamento Jurídico da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib). Tem doutorado em Antropologia Social pelo Museu Nacional (UFRJ) e em Sociologia e Direito pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Possui pós-doutorado em antropologia na École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS), de Paris.
A quinta-feira (5) será de tempo firme na maior parte de Mato Grosso do Sul, com sol e variação de nebulosidade. A previsão do Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima (Cemtec) indica que em algumas regiões como o leste, norte e bolsão ainda há possibilidade de chuvas e tempestades.
Em Campo Grande, após uma quarta-feira (4) com pancadas de chuva, o tempo fica firme com algumas nuvens, a temperatura mínima será de 20°C e máxima de até 29°C. Na região de fronteira com o Paraguai, em Ponta Porã, e na Grande Dourados as temperaturas mínimas ficam entre 18 e 19°C e a máxima de até 29°C.
Na região sudoeste e no Pantanal, a temperatura aumenta um pouco. Em Porto Murtinho e Corumbá, as mínimas variam entre 20 e 23°C e a máxima pode atingir 35°C. Já na região norte, a mínima é de 21°C e a máxima de 28°C. Três Lagoas, no Bolsão, terá sol com muitas nuvens e períodos de céu nublado com chuva, mas à noite o tempo fica firme.
Devido ao avanço da frente fria, em grande parte do estado, os ventos atuam do quadrante sul, com valores entre 30-50 km/h.