Torcedores do Boca Juniors já começaram a chegar ao Rio de Janeiro para a final da Conmebol Libertadores contra o Fluminense, sábado (4), no Maracanã. O time argentino orientou os seus torcedores para que crimes de racismo, que marcaram a temporada do futebol sul-americano, não se repitam.
As últimas ofensas raciais em competições da Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol) foram registradas há um mês, em Buenos Aires, no jogo entre Boca e Palmeiras, válido pela partida de volta da semifinal da Taça Libertadores da América.
Mas ao longo do ano, os números foram ainda piores: já são 21 casos de racismo flagrados neste ano – 13 na Libertadores e 8 na Copa Sul-Americana. Em competições nacionais, o último flagrante foi no clássico entre Coritiba e Athletico Paranaense.
Já faz alguns anos que o Observatório da Discriminação Racial trabalha junto com a CBF para combater o racismo nos estádios brasileiros. Agora a Conmebol também fechou acordo com o Observatório.
“Essa aproximação com a Conmebol é principalmente para que a gente consiga dialogar com os outros países que estão nas competições para que eles entendam esse processo que o Brasil vive de luta contra o racismo”, diz Marcelo Carvalho, diretor do Observatório.
Na Argentina existe um trabalho feito pelo Inadi (Instituto Nacional contra a Discriminação) junto aos clubes e a Associação de Futebol Argentino.
“Temos convênios com a AFA, com a maioria dos clubes da primeira divisão e das províncias. Tratamos de trabalhar a formação e o fortalecimento institucional. Nos últimos anos os clubes abriram departamentos de luta contra a discriminação”, diz Greta Pena, do Inadi.
Mas nem sempre os clubes demonstram estar preocupados com o que acontece nas arquibancadas. Em cartilha divulgava aos torcedores do clube que virão ao Rio de Janeiro para a final, o clube alerta que gestos racistas são um delito grave e que podem levar a pena que varia de dois a cinco anos de prisão.
No ano passado, o Boca Juniors até emitiu dois comunicados após os atos racistas cometidos por torcedores nos jogos contra o Corinthians.
Mas agora, não disse nenhuma palavra sobre os insultos racistas sofridos pela torcida do Palmeiras há um mês.
“A Argentina acha que não há racismo, porque na Argentina se acredita que não há negros e nem afrodescendentes. Algo que não é real. Calculamos que a Argentina tem 3 milhões de pessoas afrodescendentes”, explicou Greta.
Com o aumento no número de casos, a Conmebol subiu o valor da multa, de R$ 150 mil para cerca de R$ 500 mil. Em dois casos houve também a interdição de um setor da arquibancada – um deles no estádio do River Plate.
Com o endurecimento das punições administrativas, alguns clubes tem publicado uma cartilha aos torcedores de como se comportarem, principalmente em jogos no Brasil. O valor da multa aplicada pela Conmebol não é revertida a ações de combate ao racismo.
“A lei no Brasil prevê pena de 5 anos de prisão ao praticar discriminação racial”, dizia o comunicado do Estudiantes de la Plata publicado dias antes do jogo contra o Corinthians em agosto.
No momento, nas competições da Conmebol ainda não há a aplicação de penas esportivas para casos de racismo, como a perda de pontos ou a eliminação direta do torneio por atos racistas cometidos por torcedores.