Aqui está um modelo de trabalho e luta em favor dos colegas

O ano era 1985 quando Erildo Almeida Azevedo tomou posse no cargo de agente de segurança do TJMS. O Tribunal ainda funcionava no Edifício Cosmos, localizado na Rua Cândido Mariano. Como o prédio era particular, dividia espaço com outras empresas e já possuía infraestrutura de portaria e segurança. Então o servidor de apenas 25 anos foi posto para trabalhar no protocolo, mais especificamente na reprografia. Alguns meses depois, ele já viria a ser chefe de setor, anunciando a brilhante carreira que teria no Poder Judiciário.

“Meu superior na época me chamou para conversar na sala dele. Quando cheguei, ele já disse que um colega nosso tinha passado no concurso para escrivão, que ainda tinha naquele tempo, e que esse colega em questão era o chefe do setor de transportes, portaria e segurança. Então ele falou que precisavam de alguém para assumir a chefia no lugar e que indicaria o meu nome”, narra Erildo ainda com surpresa na voz, mesmo depois de tantos anos.

O servidor chegou a cogitar não aceitar o convite por achar que era muito novo no quadro de funcionários e que tinham pessoas mais capacitadas para assumir o cargo. Porém, com o incentivo dos colegas que prometeram auxiliá-lo no que fosse preciso, ele disse “sim” ao oportuno desafio.

Chefe de setor, mas com o Tribunal ainda sediado no Edifício Cosmos, Erildo precisava preocupar-se unicamente com os transportes. Ele conta que tinha que administrar os carros oficiais dos 10 Desembargadores da época, além dos outros veículos que tinham atribuições próprias de outros setores, tudo isso com um número limitado de motoristas. “Foi difícil, mas fiz amizade com todos eles, Desembargadores e motoristas”.

Quando chegou o ano de 1987, o TJMS alugou o Edifício Rossi, um prédio que seria de uso exclusivo para sediá-lo, e precisou-se ativar os setores de portaria e segurança. “Então os servidores que eram desses concursos tiveram que ir para os seus postos de origem mesmo. Só que nisso, um outro colega que era técnico acabou assumindo o setor de segurança e eu, que era agente de segurança, assumi o setor de transportes. Mas logo perceberam e nós trocamos”, explica.

No ano seguinte foi inaugurado o prédio em que o TJMS funciona até hoje, mas o servidor permaneceu como responsável pelo setor de segurança, o qual já havia deixado de ser subordinado ao Gabinete da Presidência e passou a ser controlado pela recém-criada Assessoria Militar. “Aquela época era cheia de protocolos para entrar nos plenários, inclusive as partes. Os homens tinham que estar de terno e as mulheres de vestido. Aos poucos que foi flexibilizando”.

Ele conta ainda que, certa vez, uma comissão de combate ao narcotráfico deslocou-se de Brasília até Campo Grande, pois a cidade foi eleita para sediá-la, tendo em vista a proximidade com a fronteira. No dia em que a comitiva chegaria, o então Presidente do TJMS, Desembargador Milton Malulei, não conseguiria estar presente e também não havia conseguido conversar com o Coronel da PM responsável pela Assessoria Militar. Ele então pediu a Erildo que o representasse e recebesse toda a comitiva em seu nome e do Tribunal.

“Eu sempre gostei do meu trabalho, dos meus colegas. Fiquei na Segurança até 1997, quando passei a trabalhar no malote. Fiz muitas amizades, fui muito reconhecido pelo serviço, mas, por outro lado, sempre fui muito rebelde. Estava em todas as manifestações para reajustes salariais, greves, tudo para tentar valorizar a categoria, melhorar nossas condições, mesmo pondo em risco o cargo que eu tinha”, compartilha Erildo.

Justamente por esse receio, quando abriram as inscrições para a segunda edição do certame “Servidor Modelo”, já em 1997, Erildo não quis nem se candidatar, acreditando que não tinha chances de receber a honraria. Foram seus colegas de trabalho que o inscreveram por confiarem na aprovação do serviço prestado pelo colega. E de fato o reconhecimento veio. “Fui escolhido e nem acreditei. Tenho elogio e honraria dada pelo Pleno. Foi algo muito significativo para mim”.

Até 2019, ano em que Erildo aposentou-se com 60 anos, o servidor prestou seus serviços no malote. “Hoje é um setor pequeno, mas antes tinha muito serviço. Todo processo que ia de uma comarca para outra, todo ofício, carta precatória, correspondência mandava primeiro para o malote e depois era encaminhado para o destino. Tinha uma equipe que trabalhava de manhã abrindo os malotes e fazendo a triagem, enquanto outra, à tarde, fazia a postagem. Eram três ou quatro carros dos Correios lotados de correspondências todos os dias. Mas quando me aposentei, já eram só três ou quatro carros na semana”.

Atualmente Erildo leva uma vida tranquila, cheia de gratidão e de planos para viajar.

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