Doutora em Educação e professora da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) há mais de 35 anos, a pedagoga Ângela Maria Costa alertou que as famílias têm abdicado da responsabilidade de educar os filhos, deixando essa tarefa a cargo das escolas, o que tem estimulado a recente onda de ameaças de ataques nas unidades de ensino em todo o Brasil. Ela utilizou a Tribuna, na sessão de ontem, terça-feira (25), a convite do vereador Ronilço Guerreiro.
“Que família é essa? Temos mais de oito tipos de famílias, e temos que conviver com essa realidade. A relação de família e escola é uma coisa séria. A família jogou para a escola a responsabilidade de educar, e a escola não está preparada”, afirmou.
“A família é a primeira instância da educação, e a escola é complementar. A escola abre o horizonte. O aluno vai para a escola para entender que o mundo é maior, que existem mais coisas”, acrescentou.
Supostas ameaças de novos atentados têm feito parte do cotidiano de escolas em todo o Brasil, causando insegurança nas famílias. Assustados, alunos têm faltado às aulas, enquanto as instituições também estão acuadas e sem um protocolo padrão para reagir a esses casos.
Para a educadora, é preciso cuidar também da estrutura das unidades. Dados apresentados durante a Palavra Livre mostram que, em todo o Brasil, 47% das escolas públicas não possuem instalações para a prática esportiva.
Além disso, mais de 30% dos professores não são habilitados em educação física. Os números mostram ainda que 45% das unidades de ensino brasileiras não possuem sala de leitura ou biblioteca.
“A violência na escola, em primeiro lugar, reflete a violência da sociedade. Ela não é construída dentro da escola. No século 21, considero um absurdo estarmos com uma escola baseada no século 18. O professor é o dono do saber, com o controle absoluto de tudo. A criança tem que decorar. O decoreba é privilegiado na escola do século 21. Não existe lugar para o aluno reagir e atuar de forma individual”, continuou a professora.
Ela ainda alertou sobre a cultura de violência dos jogos eletrônicos atuais. “Os jovens estão fechados nos celulares. Há uma cultura de violência com armas de fogo e discurso de ódio. Com essa utilização de games sem controle, estamos criando crianças com fobias sociais. A escola tem que ser um espaço de paz”, finalizou.