Quem é Daniel Noboa, magnata exportador de banana que será presidente do Equador

O empresário de centro-direita Daniel Noboa, de 35 anos, venceu neste domingo (15) as eleições no Equador e será o presidente mais jovem da história do país.

A vitória de Noboa dá fim também à tensa e violenta campanha eleitoral equatoriana, marcada pelo assassinato de um dos candidatos, ameaças do narcotráfico e presidenciáveis tendo de votar com coletes à prova de bala e forte esquema de segurança.

Segundo o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) do país, Noboa, da coalizão Ação Democrática Nacional, venceu a disputa do segundo turno com 52,3% dos votos, à frente dos 47,7% da advogada Luisa González, apoiada pelo ex-presidente Rafael Correa.

Favorita pelas pesquisas ao longo da campanha, González reconheceu a derrota.

Daniel Noboa Azín, de uma família dona de um império empresarial que inclui a exportadora de banana Bonita, uma das principais do país, assumirá um mandato atípico, que terá início em dezembro, em uma data ainda a confirmar, e durará apenas até maio de 2025.

É que Noboa vai completar o mandato do presidente Guillermo Lasso, que dissolveu a Assembleia Nacional e convocou eleições antecipadas em meio a um processo de impeachment sob acusação de corrupção.

A seguir, a trajetória empresarial e política de Noboa e suas principais propostas.

Daniel Noboa será o presidente mais jovem da história do Equador 

Império familiar

Daniel Noboa, casado com a modelo e influencer de 25 anos Lavinia Valbonesi, pai de seu segundo filho, pertence à terceira geração de uma família de empresários multimilionários de Guayaquil.

Seu avô, Luis Noboa Naranjo (1916-1994), fundou a Exportadora Bananera Noboa e chegou a ser considerado o homem mais rico do Equador.

O pai de Daniel, Álvaro Noboa Pontón (Guayaquil, 1950), expandiu o negócio da família para além das bananas, passando a controlar uma rede multinacional de empresas sob a bandeira do Grupo Noboa.

O sucesso econômico do clã foi várias vezes afetado por alegações de evasão fiscal e exploração laboral.

A BBC Mundo contatou representantes da família para fazer comentários, mas não obteve resposta até a publicação deste texto.

Álvaro Noboa foi o primeiro a dar um salto para a política, algo comum entre as famílias com poder econômico no Equador e especialmente em Guayaquil, a capital comercial do país.

A aspiração de Álvaro chegar à presidência foi, no entanto, em vão. O pai do futuro presidente é o candidato que mais vezes tentou, cinco no total, e sem sucesso, chegar ao cargo máximo no país. Nas eleições de 2006, esteve perto: perdeu no segundo turno para Rafael Correa, que liderou o país até 2017.

“Álvaro Noboa gerou rejeição porque era uma clara representação da plutocracia e da burocracia mais excludente”, disse à BBC Mundo o jornalista equatoriano Diego Cazar Baquero, diretor da revista independente La Barra Espaciadora.

Daniel Noboa estudou em universidades de prestígio nos Estados Unidos. Ele se formou em administração de empresas na Universidade de Nova York, administração pública na Harvard Kennedy School, além de ter feito um mestrado em Governança e Comunicação Política na Universidade George Washington.

Mas Noboa, que aos 18 anos tinha fundado uma empresa de organização de eventos chamada DNA Entertainment Group, só recentemente começou na política: estreou como deputado em 2021 e se tornou presidente da Comissão de Desenvolvimento Econômico do Parlamento.

Após a dissolução do Parlamento, com a ativação da chamada morte cruzada (dissolução da Assembleia e convocação de novas eleições) pelo presidente Lasso, em maio, Noboa se apresentou como pré-candidato com um perfil diferente do de seu pai.

“Daniel marca uma certa distância de Álvaro no plano simbólico, no plano discursivo e no plano prático”, explica Cazar Baquero.

Por exemplo, enquanto seu pai foi classificado na direita política, Daniel afirma ser de centro-esquerda, com ideias sociais progressistas, como o apoio à comunidade LGBTQia+ e uma forte ênfase na educação.

Para o cientista político Roberto Calderón, isso foi uma “estratégia de marketing político” que se revelou bem sucedida.

“Ele se descreve como sendo de centro-esquerda devido à baixa popularidade do governo de Guillermo Lasso, pois sabe que o rótulo de direita poderia associá-lo à continuação desse executivo”, diz.

Seus críticos afirmam que a vice-presidente eleita, Verónica Abad, tem uma orientação marcadamente de direita.

Outra diferença apontada pelos analistas é o fato de Daniel ter desenvolvido uma oratória superior à do seu pai e ter conseguido fazer chegar suas ideias ao eleitorado.

De fato, o salto mais importante em sua curta corrida à presidência foi no debate que antecedeu o primeiro turno.

Azarão

Poucos dias antes do primeiro turno, em 20 de agosto, ninguém acreditava que Noboa tinha chances reais de passar para a disputa final.

Até que chegou o debate decisivo, onde ele confrontou ideias com Luisa González e outros candidatos que eram considerados favoritos.

“Ele teve a oportunidade, em poucos minutos, de mostrar seu conhecimento sobre certos dados cruciais sobre a situação atual do país, e isso o fez parecer muito bem informado e preparado para assumir a presidência”, diz o jornalista Cazar Baquero.

Já o cientista político Roberto Calderón indica que sua participação no debate foi crucial para ele se posicionar “como uma alternativa ao correísmo”, representado por González, a quem derrotou no último domingo.

No entanto, ambos os analistas destacam que não seria correto rotular Noboa como um antícorreísta, mas sim como um político habilidoso que demonstrou posições moderadas e pragmáticas, evitando ataques diretos a seus rivais em debates e discursos.

“A praticidade de seu discurso e sua decisão de se afastar da polarização entre correísmo e antícorreísmo funcionaram muito bem para ele. Isso revela que o eleitorado quer escapar da polarização, da insegurança, da violência cotidiana e buscar soluções extremamente práticas e imediatas”, afirma Cazar Baquero.

No segundo turno, Noboa se posicionou como favorito em todas as pesquisas.

Isso também é atribuído em grande parte às limitações próprias do Revolução Cidadã, cujos líderes jamais recuperaram a popularidade dos tempos da presidência de Rafael Correa, um dos símbolos dos governos de esquerda da região nos anos 2000.

Fonte: BBC

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