A Rússia bombardeou regiões de leste a oeste da Ucrânia nesta quinta-feira (9), segundo autoridades do país. No total, oito pessoas morreram por conta dos ataques.
Esta é a principal ofensiva desde que a guerra da Ucrânia completou um ano, em 24 de fevereiro. Cidades desde o leste, na fronteira com a Rússia, até o oeste, perto da divisa com a Polônia, foram atacadas.
Como Moscou vem fazendo nos últimos meses, os alvos dos mísseis foram instalações de infraestrutura, especialmente usinas de energia e estações de distribuição de água. A tática é deixar cidades importantes sem energia para desestabilizar a economia ucraniana.
Mas, segundo autoridades locais, oito pessoas morreram por conta dos bombardeios – quatro em Kharkiv, no leste, e três em Lviv, a cidade próxima à fronteira com a Polônia.
Houve explosões também em Kiev, segundo o prefeito da capital, Vitali Klitschko. Segundo uma equipe do jornal “The Guardian” que está na cidade, 40% da população local está sem energia.
Odessa, no sul, também foi alvejada, e a usina nuclear de Zaporizhzhia está sem energia. Explosões foram relatadas ainda nas cidades de Dnieper, Lutsk e Rivne.
O governador de Kharkiv, segunda maior cidade da Ucrânia, relatou mais de 15 ataques. Já o governador de Odesa informou ter havido danos graves em instalações de energia e também em edifícios residenciais.
A cidade ucraniana de Bakhmut pode cair sob controle das tropas russas “nos próximos dias”, admitiu nesta quarta-feira (8) o secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Jens Stoltenberg.
“Não podemos descartar que Bakhmut possa eventualmente cair nos próximos dias”, afirmou Stoltenberg em Estocolmo, à margem de uma reunião de ministros da Defesa da União Europeia.
A eventual queda, acrescentou Stoltenberg, “não reflete necessariamente um ponto de virada na guerra, mas ressalta que não podemos subestimar a Rússia e devemos continuar nosso apoio à Ucrânia”.
A cidade de Bakhmut, uma das principais cidades da região de Donetsk, no leste do país, é palco de combates acirrados há várias semanas, e as tropas russas conseguiram cercá-la quase completamente.
A Ucrânia prometeu continuar defendendo a cidade, embora um de seus soldados ucranianos na área tenha dito à agência de notícias AFP que a queda é inevitável e que algumas unidades já começaram a se retirar de Bakhmut.
Segundo o governo ucraniano, atualmente restam menos de 4.000 civis em Bakhmut, em comparação com os mais de 70.000 habitantes que a cidade tinha antes do início do conflito.
Em uma entrevista recente, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse que a queda de Bakhmut deixaria o “caminho aberto” para a Rússia.
O ministro da Defesa russo, Serguei Shoigu, disse às autoridades no fim de semana que a captura de Bakhmut permitirá “operações ofensivas profundas nas linhas de defesa das forças armadas da Ucrânia”.
Um ano de guerra
A guerra da Ucrânia compeltou um ano no fim de fevereiro, com a perspectiva de seguir se arrastando ao longo de 2023 e ameaças de Moscou de uma retomada de territórios. O governo russo também tem dado indícios de uma possível parceria com a China.
Kiev, por outro lado, tem se apoiado no envio de armas e equipamentos militares por países do Ocidente, com os tanques alemães Leopard 2, para conseguir expulsar as tropas russas, que controlam atualmente cerca de 20% do território ucraniano, no leste do país.
As execuções na Arábia Saudita praticamente dobraram desde que o país passou a ser liderado pelo rei Salman e seu filho, Mohamed bin Salman, que governa de fato o país, denunciaram duas ONGs.
A aplicação da pena de morte passou de 70,8 execuções em média por ano entre 2010 e 2014 para 129,5 por ano a partir de 2015, quando o rei Salman assumiu o poder, de acordo com um relatório das ONGs Reprieve e European Saudi Organisation for Human Rights.
Com a atual liderança, mais de mil condenações à morte foram aplicadas, de acordo com as ONGs, que verificaram os anúncios oficiais e entrevistaram advogados, parentes de condenados e ativistas.
No ano passado, a Arábia Saudita, um dos países que mais recorre à pena de morte no mundo, executou 147 pessoas, segundo relatório, um número confirmado por um balanço da AFP elaborado a partir dos anúncios do governo.
Em março, o país anunciou 81 execuções em apenas um dia por crimes relacionados com o terrorismo.
“Cada dado deste relatório é uma vida humana retirada”, disse Maya Foa, diretora da Reprieve.
“A máquina saudita da pena de morte engole crianças, manifestantes, mulheres vulneráveis do serviço doméstico, ‘mulas’ que transportam drogas sem saber e pessoas cujo único ‘crime’ foi possuir livros proibidos ou falar com jornalistas estrangeiros”, acrescentou.
Desde 2013, ao menos 15 pessoas foram executadas por crimes cometidos quando eram menores de idade. E 31 mulheres foram condenadas à morte entre 2010 e 2021, incluindo 23 estrangeiras e 13 trabalhadoras domésticas.
32 pessoas morreram e 147 ficaram feridas em uma explosão suicida nesta segunda-feira (30) em uma mesquita no quartel-general da polícia na cidade paquistanesa de Peshawar, informaram autoridades.
Segundo a Reuters, muitas das vítimas eram policiais que se reuniam para orações diárias na mesquita.
Ela é localizada perto de um bloco residencial da polícia e havia cerca de 260 pessoas dentro quando a explosão ocorreu, segundo a polícia.
“Aconteceu durante as orações. Um prédio de dois andares desabou”, disse uma testemunha ocular ao canal de notícias local Geo TV, dizendo que ele estava do lado de fora da mesquita quando a explosão aconteceu.
A polícia não descarta a possibilidade de haver mais vítimas entre os escombros.
Nenhum grupo reivindicou a autoria da explosão até o momento.
A queda de um helicóptero nos arredores de Kiev, na Ucrânia, nesta quarta-feira (18), matou o ministro do Interior do país, Denys Monastyrsky, e outras 16 pessoas, entre elas quatro crianças.
Até a última atualização desta notícia, ainda não se sabia a causa da queda da aeronave, mas o governo ucraniano confirmou a morte do ministro de Interior na queda. O cargo é um dos mais importantes do país – o chefe da pasta é o responsável pelas Forças Armadas e, por isso, uma das principais peças na guerra na Ucrânia.
Além de Monastyrsky, estavam no helicóptero o vice-ministro do Interior, Yevhen Yenin, e o secretário de Estado do Ministério de Assuntos Internos, Yuriy Lubkovych. Ambos também morreram;
Três crianças estão entre as vítimas, segundo o governador da região de Kiev, Oleksiy Kuleb;
Elas estavam em uma creche que foi atingida pelo helicóptero durante a queda, também de acordo com o governo local;
Dos 16 mortos, nove estavam a bordo do helicóptero e outros sete, próximos ao local da queda – a maioria crianças e funcionários da creche;
Outras 30 pessoas ficaram feridas, 12 delas crianças, ainda segundo o governo local;
Inicialmente, o governo ucraniano havia dito que o número de mortos era de 18 pessoas.
A queda ocorreu no início da manhã em um bairro residencial de Brovary, município a 25 quilômetros do centro de Kiev. A capital ucraniana e os arredores têm sido alvo constante de bombardeios russos desde o fim do ano passado.
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zenlensky, chamou o caso de “uma terrível tragédia”.
“A dor é indescritível”, disse Zelensky, que havia nomeado Monastyrsky no início de seu governo.
O helicóptero era do modelo Super Puma, de fabricação francesa, pertencia ao governo da Ucrânia e era geralmente usado em operações de emergência.
A agência de inteligência da Ucrânia informou que abriu uma investigação para apurar as causas da queda e disse que, por enquanto, considera as seguintes hipóteses:
Violação das regras de voo;
Mau funcionamento técnico do helicóptero;
Ações intencionais para destruir um veículo.
A aeronave atingiu parte da creche e de um muro ao cair, segundo relatos de moradores. A queda causou uma forte explosão.
“Vimos pessoas feridas, vimos crianças. Havia muito nevoeiro aqui, tudo estava espalhado ao redor. Ouvimos gritos e corremos em direção a eles”, disse à agência de notícias um morador de 17 anos identificado apenas como Glib.
“Pegamos as crianças e as passamos por cima da cerca, longe do berçário porque estava pegando fogo, principalmente no segundo andar”, disse ele.
O chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, se pronunciou sobre a queda da aeronave, que, segundo ele, mostra “o preço que a Ucrânia está pagando”.
“Nossos pensamentos neste dia triste estão com as famílias das vítimas e dos feridos e com o presidente Zelensky, que perdeu seu ministro de Interior”.
Foto mostra local da queda de helicóptero na cidade de Brovary, na Ucrânia, em 18 de janeiro de 2023 — Foto: REUTERS/Viacheslav Ratynskyi
As imagens da cozinha de uma família na Ucrânia, que foi exposta ao mundo quando um míssil russo arrancou a parede externa de um prédio, causaram choque e tristeza nas redes sociais.
O apartamento era a casa do conhecido treinador de boxe Mykhailo Korenovsky, que foi morto no ataque do último sábado (14/01) em Dnipro, no leste da Ucrânia. Sua esposa e filhos teriam sobrevivido.
Um vídeo de Korenovsky comemorando um aniversário recente na família no mesmo apartamento também foi publicado.
O ataque em Dnipro matou 40 pessoas — e é considerado um dos mais brutais desde o início da invasão russa da Ucrânia, há 11 meses.
As vítimas incluem três crianças, e mais de 30 pessoas ainda estavam desaparecidas até a noite de ontem – segunda-feira (16/01).
A imagem impressiona pelo forte contraste entre o normal e o anormal; a vida doméstica da cozinha acolhedora é emoldurada pela devastação repentina e total provocada pelo ataque russo.
A cozinha de aparência moderna e armários de cor amarelo vivo permaneceu notavelmente intacta após o ataque, apesar da sua parede externa ter sido completamente destruída.
Uma fruteira está sobre a mesa repleta de maçãs, os pratos estão ao lado da pia à espera de serem lavados, e as luvas de forno seguem impecavelmente penduradas em um gancho.
“Aqui as pessoas cozinhavam, batiam papo, celebravam datas comemorativas, riam, discutiam”, escreveu a parlamentar de Kiev, Zoya Yarosh, no Facebook.
Ela comparou a destruição do prédio ao destino de seu país: “Estas são as feridas no corpo da Ucrânia. Feridas em nossas casas.”
Nas redes sociais, muita gente destacou os pequenos detalhes da fotografia, sugerindo que a família vivia da melhor maneira possível, apesar da guerra.
“Quando olho para esta cozinha, tudo o que vejo é o apartamento em que cresci, o apartamento em que meus avós moravam, o apartamento em que meus primos moravam, porque todos nós tínhamos dois banquinhos enfiados embaixo da mesa da cozinha assim”, publicou a ucraniana Alina no Twitter.
Um vídeo que circulou na internet mostra uma família comemorando um aniversário na mesma cozinha — Foto: UKRAINIAN ARMED FORCES/TELEGRAM
Antes do ataque a míssil, a cozinha parece ter sido palco de um momento feliz em família — a festa de aniversário de uma criança.
Em um vídeo publicado online e republicado pelas forças armadas da Ucrânia, uma menina sorri ao ganhar um bolo de aniversário enorme e apaga as quatro velas. Os mesmos armários amarelos estão bem visíveis, assim como as luvas de forno e a televisão na parede.
Acredita-se que as pessoas no vídeo sejam da família de Mykhailo Korenovsky, que supostamente sobreviveu ao ataque, enquanto o treinador de boxe, não.
O ataque ao prédio matou pelo menos 40 pessoas — Foto: YAN DOBRONOSOV/via BBC
Não está claro quando o vídeo foi filmado, mas é um duro lembrete de como a guerra pode de repente destruir vidas.
“Talvez tenha sido ele [Korenovsky] quem comprou aquelas maçãs para a família, deixadas em cima da mesa depois que o prédio desabou”, disse a jornalista russa da BBC Liza Fokht. “Ou talvez tenha sido ele quem deixou um prato na pia —(pensando que) haverá sempre tempo para lavar depois.”
O número de mortos em um ataque com míssil russo na cidade ucraniana de Dnipro no domingo (15) subiu para 40 nesta segunda-feira (16).
Com o novo balanço, o bombardeio se tornou o mais letal feito pela Rússia em quase um ano de guerra na Ucrânia em grandes cidades – Dnipro é a quarta maior do país.
Dezenas de pessoas ainda estão desaparecidas.
Autoridades ucranianas reconheceram pouca esperança de encontrar mais alguém vivo nos escombros do ataque. Mas o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, disse que o resgate na cidade ucraniana , na região central do país, continuará “enquanto houver a menor chance de salvar vidas”.
“Dezenas de pessoas foram resgatadas dos escombros, incluindo seis crianças. Estamos lutando por cada pessoa!”, declarou Zelenskiy em um discurso televisionado durante a noite.
As forças russas têm feito uma forte campanha de ataques aéreos desde outubro, que têm causado queda de energia e água em cidades ucranianas, como na capital Kiev.
Kiev afirma que não tem como derrubar o míssil antinavio que atingiu um prédio de apartamentos em Dnipro no sábado, durante a última saraivada de ataques da Rússia.
Alemanha
O recorde acontece no mesmo dia em que a ministra da Defesa alemã, Christine Lambrecht, pediu demissão do cargo após ser criticada pela atuação da Alemanha na guerra da Ucrânia.
A saída ocorre apenas três dias antes da visita do secretário de Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin, e de aliados se reunirem na base aérea de Ramstein, na Alemanha, para coordenar o apoio militar a Kiev.
Lambrecht foi criticada nos últimos dias depois de uma mensagem otimista de véspera de Ano Novo filmada em frente a fogos de artifício, na qual ela falou sobre as oportunidades que teve de conhecer “pessoas interessantes e ótimas” como resultado da guerra na Ucrânia.
A previsão é de que a semana registre intensa diplomacia para garantir armas adicionais a Kiev, com foco na relutância da Alemanha até agora em fornecer tanques ou permitir que seus aliados os enviem.
As autoridades da Polônia anunciaram ontem (11) a descoberta de quase 400 objetos que datam da Segunda Guerra Mundial durante a reforma de uma casa na cidade de Lódz, região central do país. Acredita-se que, à época do conflito, os donos da casa eram judeus e tenham escondido os artefatos.
Entre os achados estão menorás e chanuquiás (comumente utilizados em celebrações judaicas), talheres e itens de uso diário.
“Os moradores que enterraram esses itens provavelmente pensaram que um dia voltariam para buscá-los, que seriam capazes de recuperá-los. Provavelmente, essas pessoas perderam suas vidas [no Holocausto]”, disse Adam Pustelnik, vice-prefeito de Lódz.
Krzysztof Hejmanowski, um inspetor da construtora Warbud, cuja equipe encontrou o tesouro, disse que os itens estavam embrulhados em jornais e guardados em uma caixa de madeira. As autoridades disseram que os objetos recuperados serão transferidos para o Museu de Arqueologia da cidade.
“Essas histórias são verdadeiramente raras e preciosas e também são uma grande lição para todos nós”, afirmou Pustelnik.
O endereço onde os objetos foram encontrados, na Rua Polnocna, 23, ficava fora do perímetro do Gueto de Litzmannstadt, que era na região. Os alemães nazistas estabeleceram o bairro em Lódz em fevereiro de 1940 e, até agosto de 1944, a vizinhança abrigou cerca de 200 mil judeus de toda a Europa. A maioria morreu lá ou em campos de concentração.
Uma funcionária da Administração Municipal de Investimentos, Małgorzata Loeffler, disse que os itens e sua história despertam “emoção e profunda reflexão sobre o fato de que não estamos sozinhos, que deixamos algo para trás”.
Um homem atacou seis pessoas com um faca na estação de trem Gare du Nord, em Paris, na manhã desta quarta-feira (11). Uma das vítimas ficou com ferimentos graves, disse um porta-voz da polícia.
A estação é uma das mais movimentadas da Europa e uma importante ligação de Paris com Londres e o norte do continente.
A polícia ainda não se pronunciou sobre a motivação do ataque.
Uma fonte policial disse à agência de notícias Reuters que o policial que atirou no agressor estava de folga. O autor do ataque foi baleado pela polícia e levado a um hospital local com ferimentos graves.
A Gare du Nordé também uma das estações com mais policiamento de Paris. Policiais fortemente armados vigiam o local diariamente desde 2015, quando a capital francesa foi alvo de uma série de atentados terroristas.
Em janeiro daquele ano, integrantes do grupo terrorista Estado Islâmico invadiram a sede do jornal satírico Charlie Hedbo e mataram 11 pessoas, em retaliação a uma charge da publicação que consideraram ofensiva.
Já em outubro do mesmo ano, no pior atentado da história recente da França, terroristas mataram 130 pessoas em ataques simultâneos em diferentes pontos da cidade, como a casa de shows Bataclan e o entorno do Stade de France, estádio onde a seleção francesa jogava e o então presidente, François Hollande, estava. A partida foi interrompida.
Autodidata, com uma grande visão inovadora e confiante nos negócios, Beulah Louise Henry foi uma das inventoras mais prolíficas do século 20 — com 110 invenções e 49 patentes.
Suas máquinas de escrever, brinquedos, máquinas de costura sem bobinas e utensílios femininos fizeram de Henry uma figura famosa e querida nos Estados Unidos.
Sua grande imaginação e a diversidade de suas criações valeram a ela o apelido de “Lady Edison”, em analogia ao famoso inventor americano Thomas Alva Edison (1847-1931), responsável por mais de mil patentes ao longo da vida.
Infância na Carolina do Norte
Nascida em 28 de setembro de 1887, no seio de uma família da Carolina do Norte, Henry passou sua infância em um ambiente cultural, repleto de arte.
Desde pequena, contou com o apoio dos pais — o advogado e orador Walter Henry e a dona de casa Beulah Holden, que fazia parte da elite política do Estado.
A mãe de Henry era descendente direta de Patrick Henry (1736-1799), um dos pais fundadores dos Estados Unidos
Na Carolina do Norte, Henry estudou na Escola Presbiteriana e no Elizabeth College. E, desde criança, ela já inventava. Aos nove anos, criou seu primeiro protótipo: um cinto com apoio para papel, depois de ter visto um homem com dificuldade para ler as notícias e carregar suas compras ao mesmo tempo.
Primeira patente
Da mesma forma que seus inventos posteriores, os primeiros protótipos de Henry eram produtos da sua observação e da resolução de problemas.
Ela conseguiu sua primeira patente em 1912, com 25 anos, para uma máquina de fazer sorvetes que permitia fabricá-los mais rápido com um uso mínimo de gelo — um produto escasso quando ainda não havia congeladores —, graças a uma câmara de congelamento rodeada por uma estrutura isolante.
O aparelho podia funcionar manualmente ou com um motor, dependendo se havia ou não eletricidade disponível (a energia elétrica ainda era uma novidade), e substituía o refrigerador de água.
“Esta primeira patente refletia todas as características das invenções de Beulah Louise Henry: versatilidade, eficiência, economia e facilidade de uso. Estas qualidades fariam com que seus protótipos se destacassem entre os fabricantes e varejistas nas décadas seguintes”, escreveu o Escritório de Marcas e Patentes dos Estados Unidos (USPTO, na sigla em inglês) em um perfil de Henry no site da organização.
Um ano depois, ela registrou uma bolsa de mão com revestimentos intercambiáveis para que pudesse ser usada combinando com roupas de diferentes tons. Com isso, Henry queria resolver o problema enfrentado por muitas mulheres da época, na hora de combinar a roupa com a bolsa.
A essa patente, seguiu-se outra, de um guarda-chuva adaptado para que fosse dobrado, ocupando pouco espaço. Este mesmo artigo foi posteriormente modificado para também incluir um revestimento de tecido que permitisse combinar o guarda-chuva com a roupa.
“A inventora afirmava que tinha na mente uma imagem completa de cada produto finalizado, antes de começar a difícil tarefa de descrever sua ideia com clareza suficiente para permitir que um fabricante reproduzisse cada objeto da forma como ela o imaginava”, destaca o Salão da Fama dos Inventores Nacionais dos Estados Unidos, no qual Henry foi inscrita em 2006.
Convencendo os fabricantes
O sucesso comercial demorou a chegar para Henry.
De acordo com dados do USPTO, não há indicações de que a máquina de sorvetes tenha dado dinheiro à inventora — e o guarda-chuva com revestimentos intercambiáveis para combinar com a roupa das mulheres também parecia seguir o mesmo caminho. Os fabricantes e vendedores de Memphis, no estado americano do Tennessee, onde a família havia passado a morar, não mostravam interesse.
Para apoiar a filha na carreira de inventora, a família se mudou para Nova York, onde acreditavam que haveria mais oportunidades de abrir caminho no difícil mundo das patentes, especialmente para uma mulher.
“Ao chegar lá, Henry fez intermináveis visitas aos escritórios dos fabricantes de guarda-chuvas e cansativas caminhadas subindo lances de escada imundos até as oficinas de diversos fabricantes, tentando convencer uma indústria dominada por homens sobre o potencial da sua ideia”, afirma o USPTO.
Sua tenacidade a levou a seguir insistindo na conveniência do seu guarda-chuva, até que ela mesma decidiu criar seu próprio modelo. Com o protótipo em mãos, ela voltou a visitar um dos fabricantes que, assim que botou o olho nele, concordou que poderia ser fabricado.
Legenda da foto,Em Nova York, ela tinha acesso rápido a fabricantes, advogados de patentes e varejistas, o que foi muito importante para alavancar sua carreira como inventora
O guarda-chuva de Henry foi um grande sucesso comercial, e Nova York passou a ser sua residência permanente. Ela investiu o dinheiro que ganhou em um laboratório para transformar ideias em realidade com a ajuda de mecânicos, artesãos e maquetistas.
Henry conseguia visualizar o que desejava fabricar e explicar o conceito aos engenheiros e fabricantes, que então construíam os produtos.
“Não estou certa se é um inconveniente ou uma vantagem desconhecer tanto a mecânica como eu, que não conheço os termos mecânicos e receio que dificulto muito as coisas para os ilustradores a quem explico minhas ideias — mas, nas fábricas onde sou conhecida, eles são extremamente pacientes comigo porque parecem ter muita fé nos meus inventos”, reconheceu a própria Henry.
Solteira e economicamente independente, ela se tornou uma das chamadas “novas mulheres” da sociedade, um arquétipo feminino originado na década de 1890 que ganhou importância após a Primeira Guerra Mundial.
“Ela trabalhava até altas horas da noite, dançava até altas horas da noite e pouco se importava com as preocupações da época de sua mãe, quando o lugar ideal da mulher de classe média era sua casa e não ficar à vista das pessoas”, afirma o USPTO.
Na maior parte dos casos, a nova mulher era mais uma fantasia do que realidade nos anos 1920, quando os homens seguiam dominando a política, a indústria e a cultura americana. Mas Henry era de verdade: uma inventora de renome na cidade grande, que conseguia viver da concessão de licenças sobre suas patentes, fruto da sua excepcional criatividade.
Brinquedos para crianças
Em 1924 e 1925, Henry patenteou melhorias do seu guarda-chuva e depois decidiu se concentrar em um novo campo de pesquisa que a deixaria famosa: brinquedos para crianças.
Sua primeira solicitação de patente para uma tecnologia relacionada a brinquedos foi feita no fim de 1925. Era uma estrutura interna de molas, projetada para fazer com que as extremidades dos bichos de pelúcia voltassem para sua posição original, depois que a criança os dobrasse em diferentes posições.
Henry não tinha filhos, de forma que se inspirou nos parques infantis de Nova York e nas suas lembranças da infância.
Ela conseguiu patentear, entre outros produtos, um “rádio-boneca”, que incluía (total ou parcialmente) no seu interior um receptor de rádio conectado a uma antena. Os botões ficavam nas costas e o alto-falante, na altura do peito.
Outra invenção foi a boneca “Miss Ilusão”, que vinha com perucas loiras e morenas e olhos que mudavam da cor azul para castanho com o simples toque de um botão.
Legenda da foto,As criativas bonecas de Beulah Louise Henry incorporavam obras-primas da engenharia no seu interior
“Do lado de fora, esses brinquedos se adaptavam às normas de gênero da época e permitiam que as meninas praticassem as tarefas de cuidado associadas à maternidade. Mas, por dentro, os brinquedos de Henry eram obras-primas da engenharia que, por outro lado, continuava sendo atribuição dos homens”, afirma o USPTO.
Equipamentos de escritório
Na década de 1930, Henry concentrou sua criatividade inovadora no trabalho de escritório.
Entre 1932 e 1937, ela registrou quatro patentes para um aparelho conhecido como “protógrafo”. Com ele, era possível fazer simultaneamente até quatro cópias datilografadas mecanicamente de um mesmo documento, graças a uma segunda fita com tinta que se estendia ao longo do comprimento do rolo da máquina de escrever.
“Como máquinas complexas, as máquinas de escrever haviam sido projetadas e aprimoradas por homens, pois só eles tinham acesso às faculdades de engenharia nos Estados Unidos. Mas, como equipamentos úteis de escritório, as máquinas de escrever eram principalmente utilizadas por mulheres”, destaca o USPTO.
Até então, as cópias eram feitas com papel carbono, que acabava sujando as mãos da datilógrafa. Henry se perguntou se isso não poderia ser melhorado. E, como resposta, surgiu um acessório que deslizava uma fita com tinta entre as páginas, sem que a datilógrafa precisasse sujar as mãos.
‘Existe uma forma melhor de fazer isso’
Todos queriam saber o segredo do sucesso de Henry.
“Simplesmente olho para alguma coisa e penso: ‘Existe uma forma melhor de fazer isso’ — e a ideia surge para mim”, era a sua resposta.
Henry investia o lucro das invenções no seu processo criativo, pagando ilustradores, maquetistas e advogados que a ajudavam a preparar o pedido de patente seguinte
Durante os anos 1920 e 1930, Henry e sua equipe conseguiram, em média, mais de duas patentes por ano, incluindo uma máquina de costura sem bobina para ajudar as pessoas que trabalhavam em grande escala.
Isso levou os jornalistas a apelidar Henry de “Lady Edison”, em referência ao mundialmente famoso inventor Thomas A. Edison, que havia dirigido um laboratório de inovação em Nova Jersey, nos Estados Unidos, equivalente a uma fábrica de patentes.
Henry prosseguiu em sua prolífica carreira, exceto por um único intervalo durante a Segunda Guerra Mundial. Suas patentes ficaram cada vez mais complexas e criativas até sua morte, em 1° de fevereiro de 1973.
“Nossos lares e locais de trabalho modernos refletem sua criatividade”, diz o USPTO.
“Os brinquedos infantis interativos e fáceis de limpar, os equipamentos de escritório cada vez mais simples e eficientes e os acessórios de moda práticos e fáceis de modificar são reflexo das inovações pioneiras de Henry.”
Em janeiro de 1962, Beulah Louise Henry concedeu sua última entrevista ao jornal The New York Times. Ela comentou sua reputação como “Lady Edison”:
“Na verdade, não mereço esse título, mas um jornal me deu há alguns anos, e ele ficou.”
“Nos dias de hoje, nós a definiríamos de forma diferente — não como ‘Lady Edison’, uma versão feminina de um famoso homem inventor, mas como a visionária que foi líder em todas as suas áreas de inovação. Henry era ambiciosa, prolífica e teve sucesso por direito próprio”, afirma o USPTO.