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O histórico caos na Câmara dos EUA após fracasso republicano em eleger presidente

Uma crise política nos Estados Unidos inédita em mais de um século está impedindo que a Câmara dos Deputados escolha a presidência da Casa, em meio a uma profunda divisão dentro do Partido Republicano, que controla a maioria.

Após duas sessões legislativas tensas, na terça e quarta-feira (03/01 e 04/01), o deputado republicano Kevin McCarthy, da Califórnia, não obteve votos necessários em seis rodadas de votação na sua tentativa de ganhar a presidência da Câmara.

Na noite de ontem, depois de um recesso para tentar resolver o impasse, a Câmara votou pelo adiamento da votação novamente, desta vez para esta quinta-feira (05/01) ao meio-dia. A mesma coisa já havia acontecido na terça-feira.

O Partido Republicano e os EUA estão mergulhados no caos e na incerteza política. O novo Congresso foi eleito em novembro do ano passado e marca a retomada, pelo partido de oposição de Joe Biden, da maioria na Câmara dos Representantes.

No entanto, o candidato republicano Kevin McCarthy enfrentou uma rebelião dentro de seu próprio partido. Esta é a primeira vez em um século que um candidato à presidência da Câmara dos Deputados não consegue os votos necessários para se eleger ao cargo.

McCarthy segue como candidato por enquanto, embora não esteja claro como ele convencerá os 20 rebeldes republicanos que votaram contra ele a apoiá-lo.

“Insistiremos até vencermos”, disse McCarthy a repórteres antes da terceira votação na terça-feira, recusando-se a desistir.

Apesar do apoio do próprio ex-presidente Donald Trump, que pediu a seus colegas legisladores que votassem no deputado californiano, McCarthy perdeu em todas as rodadas.

Os republicanos rebeldes se recusam a indicar outro candidato para disputar a Presidência da Câmara no lugar de McCarthy.

McCarthy só pode perder quatro votos na Câmara, já que precisa do apoio de 218 dos 222 republicanos na Casa. Todos os 212 democratas votaram em seu líder partidário na Câmara, o deputado Hakeem Jeffries, de Nova York.

Ele enfrenta oposição de republicanos de extrema-direita, que se opõem à sua presidência por razões ideológicas e pessoais, e passaram semanas negociando concessões, como mudanças no procedimento para se remover o presidente da Câmara.

O grupo rebelde é liderado pelo republicano Andy Biggs (Arizona), que se apresentou como alternativa, e Matt Gaetz (Flórida), que passou grande parte do último mandato sob ameaça de uma investigação federal. O deputado republicano Bob Good disse que os membros de seu partido que se opõem a McCarthy “nunca recuarão”.

“Quanto mais cedo McCarthy desistir, melhor será para o país”, disse.

Resumindo a frustração com McCarthy, o popular comentarista de direita da Fox News, Tucker Carlson, disse: “McCarthy não é especialmente conservador. Ele é ideologicamente agnóstico. Seu verdadeiro eleitorado é a comunidade de lobby em Washington. Isso é enfurecedor para quem tem convicções políticas sinceras”.

Confira abaixo o que pode acontecer agora com a crise política:

1. Kevin McCarthy vence

A estratégia de Kevin McCarthy parece ser a de tentar desgastar seus rivais. Seus partidários continuarão indicando seu nome até que os oposicionistas se cansem de votar contra ele.

Se McCarthy for capaz de costurar algum tipo de acordo, ele terá de oferecer mais poder e influência a seus oponentes.

Mas quaisquer concessões acabarão por enfraquecer seu poder, tornando mais provável que ele venha a ser destituído da Presidência ao longo do ano, quando são travadas as discussões mais duras — sobre o orçamento e o aumento do teto da dívida.

McCarthy também pode esperar que os democratas se cansem da disputa e parem de comparecer às votações, diminuindo a margem necessária para que ele obtenha a maioria. Até agora, no entanto, os democratas parecem estar gostando de ver o caos republicano.

Alguns republicanos — como Ken Buck, do Colorado — estão insinuando que McCarthy deveria renunciar em favor de um candidato alternativo, como seu vice, Steve Scalise, da Louisiana.

2. Kevin McCarthy desiste

Após dois dias de derrotas, é possível que McCarthy desista. A desistência pode partir dos próprios republicanos que apoiam McCarthy.

“Estamos começando a ter algum conflito aberto no plenário e a portas fechadas”, disse Buck, que votou em McCarthy em todas as seis rodadas. “Temos que escolher um presidente e seguir em frente.”

Scalise talvez seja a escolha mais aceitável tanto para os conservadores da linha dura quanto para o resto dos republicanos da Câmara. Ele é considerado um conservador ferrenho e literalmente sangrou pelo partido, tendo sido gravemente ferido no ataque a tiros contra deputados republicanos durante um treino de beisebol em 2017. O maior obstáculo no momento é que ele não parece querer o cargo.

Outras possibilidades incluem o congressista Jim Jordan, de Ohio, e Jim Banks, de Indiana, chefe do Comitê de Estudos Republicanos. Mas nenhum dos dois parece ser capaz de unificar o partido. Byron Donalds, da Flórida, foi indicado pelos republicanos rebeldes três vezes na quarta-feira, mas o congressista novato não tem sido levado a sério pela maioria.

3. Os dois lados optam por outro nome

Democratas e republicanos na Câmara dos Representantes do Estado de Ohio se uniram na terça-feira para rejeitar um presidente da Casa mais conservador e eleger um candidato moderado. Isso também poderia acontecer na Câmara dos Deputados dos EUA?

Esse tipo de especulação começou a surgir nos últimos dias, diante do impasse político.

Republicanos
Legenda da foto,Um grupo de republicanos, incluindo Matt Gaetz (à direita), discute na Câmara dos Republicanos

Don Bacon, um republicano de centro de Nebraska, já havia expressado a vontade de trabalhar com os democratas para achar um nome de consenso, caso McCarthy não consiga se eleger.

Fred Upton, um ex-congressista republicano de Michigan moderado, se apresentou como uma escolha da coalizão (não há exigência de que o presidente tenha que ser um membro atual do Congresso). E os democratas têm recebido sinalizações de vantagens para ajudar a resolver a crise — como mudanças em regras que lhes permitiriam apresentar projetos de lei ou mais poder nas comissões.

Tudo isso exigiria que um número considerável de democratas concordasse com o plano, o que no ambiente fortemente polarizado de hoje parece extremamente improvável. E qualquer republicano que trabalhe com os democratas será considerado instantaneamente persona non grata entre a maioria dos conservadores.

Mas dado que a Casa já chegou a este momento inédito na sua história, nenhuma opção é descartada por ora.

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Guerra na Ucrânia: o papel de celulares na morte de dezenas de soldados russos

A Rússia afirma que um ataque com mísseis no último domingo (01/01) que matou pelo menos 89 soldados russos atingiu o alvo porque eles estavam usando seus telefones celulares.

O uso de telefones proibidos permitiu que o inimigo localizasse seu alvo, disseram as autoridades.

A Ucrânia diz que 400 soldados foram mortos — e outros 300 feridos — no ataque a uma escola para recrutas em Makiivka, na área ocupada de Donetsk.

Esse foi o maior número de mortes em um ataque que a Rússia reconheceu desde o começo da guerra.

A Rússia disse que às 00h01, horário local, no dia de Ano Novo, seis foguetes foram disparados de um sistema de foguetes Himars, fabricado nos Estados Unidos, contra uma escola. Dois foguetes foram interceptados, segundo os russos.

O vice-comandante do regimento, tenente-coronel Bachurin, está entre os mortos, informou o Ministério da Defesa em comunicado nesta quarta-feira (04/01).

Uma comissão está investigando as circunstâncias do incidente, disse o comunicado.

Mas, segundo o governo russo, seria “óbvio” que a principal causa do ataque foi a presença e “uso em massa” de telefones celulares por soldados ao alcance das armas ucranianas, apesar de o uso de celulares ter sido proibido.

“Esse fator permitiu ao inimigo determinar as coordenadas da localização de militares para um ataque com míssil.”

Os militares que forem responsabilizados na investigação serão processados, acrescentou o comunicado. A Rússia está tomando medidas para evitar episódios semelhantes no futuro.

Na nota de quarta-feira, a Rússia subiu — para 89 — o número divulgado anteriormente de soldados russos mortos no ataque. Não é possível verificar esse dado de forma independente. É extremamente raro para Moscou confirmar baixas no campo de batalha.

A escola alvo do atentado estava lotada de recrutas. Em setembro, o presidente russo Vladimir Putin havia anunciado a convocação de 300 mil homens. O ataque também destruiu munição que estava sendo armazenada próximo ao local.

Escola destruida em ataque ucraniano
O prédio que abrigava os recrutas foi praticamente destruído no ataque ucraniano

Alguns analistas e políticos russos acusaram os militares de incompetência, dizendo que as tropas não poderiam ter sido colocadas em locais tão vulneráveis.

Pavel Gubarev, um ex-alto funcionário da Rússia em Donetsk, chamou de “negligência criminosa” a decisão de abrigar um grande número de soldados em um só prédio.

“Se ninguém for punido por isso, só vai piorar”, alertou.

O vice-presidente do Parlamento municipal de Moscou, Andrei Medvedev, disse ser provável que os soldados sejam culpados pelo incidente, e não o comandante que tomou a decisão de colocar tantas pessoas em um só lugar.

O presidente Vladimir Putin assinou um decreto na terça-feira para que as famílias dos soldados da Guarda Nacional mortos em serviço recebam 5 milhões de rublos (cerca de R$ 380 mil) cada.

Cecilia Payne-Gaposchkin, Vera Rubin e Henrietta Swan Leavitt

As 3 mulheres que mudaram nossa forma de ver o Universo

Elas precisaram enfrentar os preconceitos da sociedade, dos colegas e dos professores. Recebiam os salários mais baixos, muitas vezes tiveram seu trabalho ignorado por serem mulheres, ou seus companheiros ou superiores simplesmente se apropriaram das suas descobertas.

Chegaram a precisar lutar por coisas básicas, como um banheiro feminino no local de trabalho.

Muito poucas receberam seu merecido reconhecimento em vida. Mas são muitas as mulheres pioneiras da astronomia. Seu trabalho ajudou a nos fazer compreender um pouco mais sobre o Universo.

Destacamos três exemplos dessas mulheres que conseguiram superar obstáculos – alguns deles ainda enfrentados por muitas mulheres até hoje – para mudar a forma como entendemos o cosmos e inspirar as gerações futuras: Henrietta Swan Leavitt, Cecilia Payne-Gaposchkin e Vera Rubin.

Henrietta Swan Leavitt: as medidas do universo

Henrietta Swan Leavitt
Henrietta Swan Leavitt foi pioneira na astronomia

Uma das pioneiras da astronomia, a norte-americana Henrietta Swan Leavitt (1868-1921) começou a trabalhar no Observatório da Faculdade Harvard em 1895.

Ela cobrava US$ 0,30 por hora e era quase surda desde os 17 anos de idade. Mas suas descobertas nos deram a chave para entender as medidas do universo e até hoje são usadas para medir a expansão do cosmos.

Leavitt fez parte de um extraordinário grupo de mulheres conhecidas como os “computadores de Harvard”. O astrônomo Edward Charles Pickering as contratou para processar e classificar as enormes quantidades de imagens do universo necessárias para seus estudos.

As mulheres "computadores de Harvard", com o astrônomo Edward Charles Pickering
As mulheres “computadores de Harvard”, com o astrônomo Edward Charles Pickering

As mulheres cobravam muito menos. Por isso, Pickering tinha condições de contratar várias funcionárias. Elas também eram consideradas conscienciosas e observadoras – ideais para o trabalho monótono e repetitivo que era necessário para análise dos dados.

Por serem mulheres, nenhuma delas tinha direito de operar os telescópios, o que limitava muito o seu trabalho. E os colegas referiam-se ao grupo depreciativamente como “o harém de Pickering”.

Leavitt foi incumbida de trabalhar com as estrelas variáveis chamadas cefeidas, cujo brilho muda com o passar do tempo.

Em 1908, apesar das restrições impostas ao seu trabalho, ela percebeu um detalhe a que os outros cientistas não haviam prestado muita atenção: as estrelas cintilavam com ritmo regular e, quanto mais longo o período, maior sua luminosidade intrínseca.

Este padrão é conhecido hoje em dia como a “lei de Leavitt”. Segundo ela, uma estrela que demora mais para cintilar é intrinsecamente mais brilhante que outra que cintila rapidamente.

Henrietta Swan Leavitt

A descoberta poderia ter sido uma simples curiosidade, até que Leavitt aplicou esse conhecimento às imagens da Pequena Nuvem de Magalhães, uma galáxia anã próxima da Via Láctea. E, nesta amostra menor, sua teoria pôde ser vista com ainda mais clareza.

Leavitt concluiu que simplesmente medindo a velocidade de pulsação (que pode variar de dias até semanas) e vendo seu brilho a partir da Terra, o astrônomo pode deduzir a distância até o objeto observado. A descoberta foi tão revolucionária que transformou a imagem bidimensional que tínhamos do Universo em uma imagem 3D.

Seu trabalho, talvez por ser avançado para a época ou simplesmente por ter sido obra de uma mulher, passou uma década abandonado e só foi retomado depois da morte prematura da sua descobridora, vítima de câncer do estômago.

O astrônomo Edwin Hubble baseou-se na descoberta de Leavitt, de 1920, para deduzir que as manchas de luz no céu são galáxias inteiras, muito mais distantes da nossa. Assim, ele nos ensinou que o universo é muito maior do que imaginávamos.

Cecilia Payne-Gaposchkin: a matéria que compõe as estrelas

Cecilia Payne-Gaposchkin trabalhando

Cecilia Payne (posteriormente, Payne-Gaposchkin, 1900-1979) era a única mulher na sua classe de física na Universidade de Cambridge, no Reino Unido. Ela precisava sentar-se na primeira fila e suportar diariamente a humilhação dos colegas.

Um dos seus professores era o pai da física nuclear, Ernest Rutherford. Ele olhava fixamente para ela e começava a aula: “senhoras e senhores…”

“Todos os homens recebiam regularmente esta cena com aplausos estrondosos e batendo os pés… todas as aulas, eu desejava afundar na terra. Até hoje, instintivamente, ocupo o lugar mais fundo possível em uma sala de conferências”, confessou Payne-Gaposchkin em sua autobiografia.

O desplante dos colegas não a desanimou. Mas Payne imaginou que, como mulher, teria mais oportunidade de trabalhar com a astronomia nos Estados Unidos do que no seu país natal, o Reino Unido.

De fato, mesmo concluindo seus estudos em Cambridge, ela nunca conseguiu receber seu diploma. A Universidade só permitiria a graduação de mulheres em 1948.

Em 1923, Payne-Gaposchkin conseguiu uma bolsa de pesquisa para entrar no Observatório da Faculdade Harvard, nos Estados Unidos. Lá, ela trabalhou ao lado das mulheres “computadores de Harvard”, como fez Henrietta Swan Leavitt.

Usando os mais recentes conhecimentos da física quântica, ela elaborou a noção de que as estrelas são compostas principalmente de hidrogênio e hélio. Na época, foi uma ideia revolucionária.

Cecilia Payne-Gaposchkin.
Cecilia Payne-Gaposchkin se formou em Canbridge mas não recebeu o diploma pois só em 1948 a faculdade passou a fazer diplomação de alunas mulheres

Payne-Gaposchkin chegou a esta conclusão depois de relacionar com precisão os diferentes tipos de espectros das estrelas com suas temperaturas reais, aplicando a teoria de ionização desenvolvida pelo astrofísico indiano Meghnad Saha.

Ela observou uma grande variação nas linhas de absorção estelar e demonstrou que essa variação se devia a diferentes níveis de ionização em diferentes temperaturas, não a diferentes quantidades de elementos.

Até então, a ciência não havia conseguido deduzir do que eram feitas as estrelas. Acreditava-se que seus ingredientes seriam similares aos do planeta Terra. Mas Payne-Gaposchkin afirmou que as estrelas eram muito mais simples do que se pensava e incluiu suas conclusões na sua tese de doutorado.

Em 1925, um dos astrônomos mais reconhecidos da época, Henry Norris Russell, aconselhou Payne-Gaposchkin a eliminar esta ideia da tese, porque ia contra a corrente de pensamento dominante. Mas, alguns anos depois, Russell chegou à mesma conclusão de Payne usando outros métodos. Por isso, acabou, por muitos anos, recebendo o crédito pela descoberta.

Pioneira em muitos campos, Payne-Gaposchkin foi a primeira doutora e física do Radcliffe College, como era chamado na época o setor feminino de Harvard. E, anos depois, ela se tornou a primeira mulher a dirigir o Departamento de Astronomia da Universidade Harvard.

Vera Rubin: a pioneira da matéria escura

Vera Rubin.
Vera Rubin construiu seu próprio telescópio ainda criança

Ainda menina, Vera Rubin (1928-2016) construiu seu primeiro telescópio com um tubo de papelão que ganhou em uma loja de linóleos e pequenas lentes que ela comprou em uma loja de material científico.

Anos depois, ela foi a primeira mulher autorizada a operar o Observatório Palomar, na Califórnia (Estados Unidos). Lá ela fez uma descoberta cujos mistérios até hoje estão sendo decifrados: a matéria escura.

Atualmente, o observatório com a lente mais potente já fabricada para um telescópio está sendo construído no norte do Chile e leva seu nome.

Sua família sempre incentivou seu talento e paixão pela ciência. Mas, quando Rubin contou ao seu professor de física do instituto, onde era praticamente a única mulher, que planejava entrar na universidade, ele recomendou que ela evitasse as carreiras científicas.

Por sorte, Rubin não deu atenção e formou-se na Faculdade Vassar, nos Estados Unidos, em 1948.

Ela concluiu seu doutorado seis anos mais tarde, já que cuidava dos seus filhos pequenos. Muitas vezes, ela precisava assistir a aulas noturnas, enquanto seus pais cuidavam das crianças e seu marido, que também era cientista, ficava esperando no carro.

Vera Rubin precisou enfrentar, por quase toda a sua carreira, os preconceitos machistas daqueles que consideravam que a vida de uma mãe de quatro filhos era incompatível com a ciência, mas ela sempre se mostrou combativa.

Vera Rubin.
O mais potente telescópio a ser instalado no Chile foi batizado com o nome de Vera Rubin

Um exemplo ocorreu quando ela finalmente conseguiu ter acesso ao Observatório de Palomar, onde não havia banheiro feminino. Rubin decidiu reafirmar sua posição e colou uma folha de papel na porta do banheiro masculino, para criar o seu próprio.

Ao longo da vida, ela lutou pela inclusão das mulheres nos comitês e conferências científicas.

Rubin ficou fascinada pelas galáxias espirais e quis estudar como elas giravam. Naquela época, considerava-se que a rotação deveria desacelerar conforme a distância até o centro da galáxia, da mesma forma que os planetas orbitam mais lentamente quanto mais longe estiverem do Sol.

Em um dos seus primeiros estudos, ela questionou esta ideia e, embora sua posição tenha sido recebida com ceticismo, ficou demonstrado que ela tinha razão.

Mais tarde, nos anos 1970, Rubin descobriu algo surpreendente. As galáxias que ela observava giravam tão rápido que o lógico seria que elas se separassem se a única responsável por mantê-las unidas fosse a gravidade das estrelas.

Mas, como as galáxias não se separavam, era preciso haver algo maior, mas totalmente invisível, que exercesse essa força: a matéria escura.

Hoje, depois de 50 anos, sabemos que a matéria escura compõe cerca de 84% do Universo. Ainda estamos tentando compreender do que ela se trata.

Fonte: BBC

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Funeral de Bento XVI: Corpo de do Papa emérito é velado na Basílica de São Pedro

O corpo do Papa Emérito Bento XVI está sendo velado na Basílica de São Pedro enquanto milhares de pessoas fazem fila horas antes do amanhecer desta segunda-feira (2) para prestar suas homenagens.

As portas da basílica foram abertas para que o público pudesse prestar homenagem ao falecido pontífice, que chocou o mundo em 2013 ao se aposentar do papado, o primeiro a fazer isso em 600 anos.

O frágil Bento XVI, de 95 anos, morreu no sábado de manhã no mosteiro do Vaticano, onde vivia desde sua aposentadoria.

Autoridades de segurança esperaam que pelo menos 25.000 pessoas passem pelo corpo no primeiro dia de exibição.

O enterro está marcado para o dia 05/01.

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Bombardeio com drones atinge novamente Kiev

A capital da Ucrânia voltou a ser alvo de ataques na manhã desta segunda-feira, informou a administração militar regional, que pediu a população que se mantenha pronta para se dirigir a abrigos. Pelo menos duas pessoas ficaram feridas. Kiev afirma que as forças russas continuam a recorrer a aparelhos Shaded de fabricação iraniana.

“O inimigo está atacado a capital”, escreveu a administração militar de Kiev, na plataforma Telegram, acrescentando que foram abatidos pelo menos 9 drones no espaço aéreo da capital ucraniana.

O primeiro alerta para bombardeios aéreos soou à 1h56 (horário local) e durou cerca de 3 horas. Às 5h24, ouviu-se um segundo alerta com duração de 30 minutos. O presidente a Câmara de Kiev, Vitali Klitschko, relatou “várias explosões ouvidas nos bairros de Solomianskyi e Shevchenkivskyi”.

As estruturas militares russas começaram a privilegiar uma estratégia de bombardeio em massa visando atingir as infraestruturas energéticas da Ucrânia desde o outono. Milhões de civis enfrentam um inverno rigoroso e frequentes cortes de energia.

Em Moscou, o Ministério Russo de Defesa insiste na ideia de que essas sucessivas ondas de ataques não visam a população civil, mas tem como alvo as redes de abastecimento de energia elétrica, além das rotas de transferência de armas e munições de produção estrangeira.

Na sequências do ataque russo da última sexta-feira, quando foram lançados sobre a Ucrânia mais de 70 mísseis, a operadora de eletricidade do país se viu obrigada a impor cortes de emergência. Em Kiev, a população civil procurou abrigos em estações de metrô.

Segundo o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, na noite de domingo já havia sido possível repor o abastecimento de energia para cerca de 9 milhões de pessoas. Ele reiterou também, o pedido de apoio ao Ocidente, sustentando que os sistemas de defesa antiaérea são o mecanismo mais eficaz para forçar o fim do conflito. O presidente teme os rumores de que haverão novos ataques em massa desencadeados a partir da fronteira bielorrussa.

Na última semana, aliados do Ocidente se comprometeram a fazer chegar em Kiev um pacote de ajuda suplementar estimado em bilhões de euros. O primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, deverá anunciar hoje nova remessa de munições para sistema de artilharia.

Estima-se que 17,7 milhões de ucranianos necessitem de ajuda humanitária.

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O que é moharebeh, o crime contra Deus pelo qual o Irã executa manifestantes

A Justiça no Irã contempla um crime gravíssimo, pois por sua definição dentro do contexto da lei islâmica, trata-se praticamente de uma sentença de morte: o crime de “ódio contra Deus” ou “moharebeh”.

Até o momento, a República Islâmica do Irã executou centenas de pessoas por esse crime.

Nesta semana, enforcou dois manifestantes ligados a protestos que acontecem em todo o país desde setembro após a morte sob custódia policial de uma jovem presa pela polícia da moralidade por usar o hijab, ou lenço islâmico, de forma inadequada.

Mohsen Shekari e Majidreza Rahnavard, ambos de 23 anos, foram executados poucos dias depois de serem condenados pelo crime de moharebeh por um tribunal revolucionário.

Shekari foi considerado culpado de atacar com um facão em Teerã, um membro da Força de Resistência Basij paramilitar, enquanto Rahnavard foi condenado por supostamente matar dois membros do mesmo grupo.

Organizações de direitos humanos denunciaram que os manifestantes foram condenados à morte em tribunais ilegítimos sem o devido processo e alertaram para o “grave risco de execuções em massa de manifestantes”.

Eles apontam que os indivíduos acusados de moharebeh não têm o direito de contratar um advogado independente e que muitos dos casos são baseados em confissões forçadas.

O mais intrigante, do ponto de vista da lei tradicional, é que a ofensa está aberta à interpretação. “A acusação depende de um juiz acreditar que uma guerra está sendo travada contra Deus”, explica Amir Azimi, editor-chefe do serviço persa da BBC.

Um clérigo em Teerã durante a Revolução Islâmica no Irã
Irã começou a aplicar a lei sharia globalmente após a revolução islâmica de 1979

‘Inimigos de Deus’

Após a Revolução Iraniana de 1979, a lei iraniana começou a mudar de sua base secular para a sharia (lei islâmica).

“A emergente República Islâmica do Irã começou a aplicar essa lei globalmente, pois é um código de conduta para os muçulmanos”, diz Azimi.

Dentro da sharia, moharebeh é um termo técnico legal que tem várias traduções, incluindo “guerra contra Deus”, “guerra contra o Estado e Deus” ou “ódio contra Deus”, significando que os culpados são “inimigos de Deus”.

Segundo o artigo 279 do Código Penal Islâmico, moharebeh pode significar sacar uma arma com a intenção de atentar contra a vida, a propriedade ou a honra de pessoas ou intimidá-las, de modo a causar insegurança no ambiente.

Essa é uma das acusações básicas, assinala Azimi.

“Literalmente, se um indivíduo pega armas (podem ser armas de fogo ou lâminas) e as usa para ‘aterrorizar’ alguém, considera-se que ele está cometendo moharebeh. Não é necessário causar a morte de alguém. Basta ameaçar a vítima.”

Segundo essa interpretação, o primeiro executado nestes recentes protestos, Mohsen Shekari, deveria ser condenado por ferir um dos paramilitares Bajib.

Mesmo que o réu apresentasse um argumento que o isentasse, havia outra acusação básica pela qual ele foi condenado: bloqueio de estradas.

“O bloqueio de estradas também é considerado parte do crime, porque historicamente remonta aos antigos ladrões que bloqueavam as estradas para roubar os transeuntes”, diz Azimi.

Então, aqui está uma interpretação literal dos fatos, já que os bloqueios de estradas sempre acontecem quando há manifestações, mesmo que sejam pacíficas, como a maioria dos protestos atuais.

Protesto em Paris contra execuções no Irã
Execuções pelo crime de moharebeh geraram reclamações e protestos internacionais

Ação pessoal

Uma parte crucial da interpretação do crime também tem a ver com o fato de o ataque ser pessoal ou não.

Por exemplo, alguém que mata outra pessoa por motivos pessoais não é necessariamente classificado como culpado de moharebeh.

“Se o assassino pagasse pelo crime ou a família da vítima o perdoasse, ele não teria a sorte de ser executado”, diz Azimi.

Mas em um protesto, os manifestantes não estão direcionando sua raiva para ninguém em particular, então suas ações não são pessoais. Nesse caso, eles estão de fato sujeitos a serem acusados de moharebeh.

Isso permite que a lei seja usada cada vez mais politicamente. É equiparado a “aterrorizar”, que é um termo muito vago.

“Do ponto de vista do regime da República Islâmica do Irã, que se considera a representação de Deus na Terra, se houver um movimento, um grupo ou um indivíduo que queira mudar esse regime, eles já estão empreendendo guerra contra Deus e, portanto, são automaticamente acusados de mohabereh”, explica Azimi.

Quase sem discussão, eles acabam executados por esse crime capital. Muitos ativistas políticos foram acusados, presos, julgados e condenados pelo mesmo crime.

Arma política

Por sua natureza política, o regime a utiliza contra indivíduos ou grupos de oposição ou dissidentes, cujas lutas por reivindicação política poderiam ser consideradas legítimas em outros contextos. Mas no Irã eles acabam sendo, via de regra, acusados por esse crime, contra o qual têm menos capacidade de se defender.

“Isso já aconteceu antes contra os curdos e outras comunidades minoritárias”, diz Azimi.

A organização humanitária Human Rights Iran, sediada na Noruega, denunciou a execução dos prisioneiros políticos curdos Loghman Moradi e Zanyar Moradi em setembro de 2018, alegando que suas confissões foram coagidas e que eles não tinham representação legal adequada.

Essas são algumas das críticas mais contundentes à aplicação deste crime, uma vez que os réus não têm acesso a uma defesa independente. O tribunal designa-lhes um advogado que basicamente repete a decisão do juiz.

Se a pessoa acusada puder contratar um advogado particular, ela não terá permissão para contatá-lo e nem como apresentar provas de defesa. Também não pode apelar da sentença.

Por sua vez, o juiz do tribunal revolucionário tem muita margem de manobra para interpretar o crime e emitir sua decisão.

Os líderes do Irã chamaram os protestos de “motins” instigados pelos inimigos estrangeiros do país.

“Do ponto de vista do governo, essas pessoas foram enganadas por agentes estrangeiros inimigos do regime que as fizeram agir dessa forma”, diz Azimi, “portanto, se você disser que foi enganado ou que não estava em seu juízo perfeito, você pode ser perdoado.”

Ativistas apontam que a mídia estatal costuma transmitir falsas confissões de detidos.

Em um vídeo transmitido pela TV estatal após sua prisão, Rahnavard não nega ter atacado membros do Basij, mas diz não se lembrar dos detalhes, porque não estava em seu estado de espírito adequado. Ainda assim, ele foi executado.

Nas últimas quatro décadas, o Irã executou milhares de pessoas. Depois da China, é o país que mais execuções realiza anualmente.

Fonte: BBC News

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As mulheres ordenadas padres da Igreja Católica que enfrentam o Vaticano e ameaça de excomunhão

Anne Tropeano está passando suas roupas, preparando-se para o dia atribulado que tem à sua frente.

Ela pega sua alva e sua casula delicadamente bordada – vestimentas usadas pelos padres católicos em todo o mundo. Em um calendário preso na parede, lê-se a anotação em caneta vermelha: amanhã é o “dia da ordenação”.

Mas ela também está ao telefone contratando um segurança para o serviço em uma igreja de Albuquerque, no Novo México (Estados Unidos), onde ela mora. Tropeano imagina que pode haver hostilidade.

“É uma questão tensa. Nem todos estão abertos nem mesmo a considerar a possibilidade de que as mulheres sejam convocadas ao sacerdócio”, afirma ela.

Tropeano não está apenas preocupada com o assédio pessoal. Ela conta que, desde que tornou pública sua esperança de tornar-se padre da Igreja Católica, vem sofrendo “impressionante” assédio online.

Tropeano é uma entre mais de 200 mulheres em todo o mundo que fazem parte do movimento pelas mulheres padres da Igreja Católica, um grupo que participa de serviços de ordenação não autorizados para tornar-se padres, em ato que desafia a Igreja Católica Romana.

A Igreja Católica não permite que mulheres sejam padres. Na verdade, o Vaticano considera a ordenação de mulheres um crime sério, passível de excomunhão pelo direito canônico. Isso significa que as mulheres que participarem de uma “ordenação” ficam impedidas de receber os sacramentos, incluindo a comunhão, ou de ter funeral realizado na igreja.

“A excomunhão foi a razão que me impediu de cogitar ser padre por muito tempo”, afirma ela. “Eu ia à missa todos os dias. Eu trabalhava na paróquia, toda a minha vida estava na igreja. Pensar em desistir daquilo – eu não conseguia nem imaginar.”

Anne Tropeano foi ordenada em Albuquerque, New Mexico, nos EUA — Foto: ANNE TROPEANO/via BBC
Anne Tropeano foi ordenada em Albuquerque, New Mexico, nos EUA — Foto: ANNE TROPEANO/via BBC

Tropeano é católica devota. Depois de anos em outros trabalhos, incluindo o de gerente de uma banda de rock, ela sentiu o chamado para o sacerdócio. “Eu podia ouvir, ‘você é meu padre, você é padre, eu quero que você seja padre’.”

A única opção em aberto para ela, como mulher, seria servir à igreja em outra função – como freira ou colaboradora leiga da sua diocese. Ou ela poderia abandonar totalmente o catolicismo em favor de outra denominação cristã que a recebesse como sacerdote.

Depois de anos de ponderação pessoal, ela percebeu que as limitações das regras do Vaticano não permitiriam que ela atendesse o seu chamado. “Quando reconheci que este era o próximo passo, a excomunhão era apenas parte da jornada”, segundo ela.

Tropeano e outras mulheres como ela também consideram que sua decisão de serem “ordenadas” é uma forma de ativismo contra o que elas consideram uma norma sexista da Igreja Católica.

Do Judaísmo Reformista até muitas denominações protestantes, outras religiões estão abertas à ordenação das mulheres. Mas, para a Igreja Católica, a proibição do acesso das mulheres ao sacerdócio baseia-se, entre outros argumentos, nos registros bíblicos de que Cristo escolheu 12 homens como seus apóstolos. Desde então, a Igreja Católica decidiu imitar Cristo.

Mas, para Tropeano, essa regra tem consequências mais amplas.

“Pelos ensinamentos da Igreja, com suas ações de excluir as mulheres da ordenação, ela está ensinando que as mulheres são inferiores. As mulheres aprendem isso, as crianças aprendem isso, os homens aprendem isso… e eles vão para o mundo e vivem dessa forma”, afirma ela.

Olga Lucía Álvarez Benjumea foi a primeira mulher padre da América Latina — Foto: BBC
Olga Lucía Álvarez Benjumea foi a primeira mulher padre da América Latina — Foto: BBC

Cerimônia em um cruzeiro

O movimento das mulheres padres ganhou visibilidade em 2002, quando um grupo de sete mulheres participou de um serviço de ordenação não aceito pela Igreja Católica, a bordo de um navio no rio Danúbio – em águas internacionais, para evitar conflito com qualquer região eclesiástica.

Houve ainda relatos de “ordenações” secretas anteriores, como a de Ludmila Javorova, na antiga Checoslováquia. Durante o regime comunista nos anos 1970, ela participou de um serviço conduzido por um bispo da Igreja Católica.

Atualmente, o movimento de ordenação das mulheres concentra-se principalmente na Europa e nos Estados Unidos, mas seus defensores já se expandiram para outras partes do mundo.

A colombiana Olga Lucía Álvarez Benjumea foi a primeira mulher padre da América Latina. A região é um bastião da Igreja e reúne mais de 40% da população católica mundial, de 1,3 bilhão de pessoas.

Sua cerimônia, em 2010, foi realizada em segredo, mas ela afirma que contou com o apoio da hierarquia católica local. “Houve um bispo… católico romano, cujo nome não dizemos para que ele não tenha problemas com o Vaticano”, ela conta.

“Fiquei com muito medo de que as pessoas de repente começassem a me insultar ou atirar coisas em mim no altar, nesta sociedade muito conservadora onde vivo”, afirma Álvarez. “Mas o apoio que recebi das pessoas foi uma grande surpresa, que fortaleceu e reforçou minha missão.”

Álvarez foi promovida a bispa da Associação de Mulheres Padres Católicas Romanas (ARCWP, na sigla em inglês), que não é reconhecida pelo Vaticano.

Ela vem de uma família católica muito devota, mas teve o apoio da sua mãe, que já foi freira. O irmão de Álvarez é padre e deu a ela um cálice de presente, que ela considera uma forma de apoio silencioso.

Álvarez insiste que não há nada nas Escrituras que exclua as mulheres do sacerdócio. “É uma lei humana, uma lei da Igreja, e uma lei injusta não precisa ser respeitada”, segundo ela.

Este sentimento é compartilhado pela Conferência pela Ordenação das Mulheres (WOC, na sigla em inglês), um grupo que tenta convencer o Vaticano sobre o acesso das mulheres ao sacerdócio, por meio de convocações ao diálogo e demonstrações.

A diretora-executiva da WOC, Kate McElwee, afirma que seu trabalho favorito é o que eles chamam de “Ministério da Irritação”. São apoiadoras que fazem de tudo, desde soltar fumaça rosa durante o Conclave até deitar-se no caminho enquanto o papamóvel trafegava pela cidade. Elas já foram detidas pela Polícia do Vaticano por suas ações.

“Nós caminhamos ao lado dessas mulheres na sua vocação e elas estão esperando que o Vaticano abra suas portas e, de fato, enfrente seu pecado do sexismo”, afirma McElwee. “Mas, enquanto isso, para outras mulheres, seria impossível esperar. O chamado de Deus é tão alto e claro que elas não têm escolha senão infringir uma lei injusta.”

A irmã Nathalie Becquart é a primeira mulher a ser nomeada Subsecretária do Sínodo dos Bispos. O cargo dá a ela direito a voto no Vaticano. — Foto: FRANCESCO PISTILLI/via BBC
A irmã Nathalie Becquart é a primeira mulher a ser nomeada Subsecretária do Sínodo dos Bispos. O cargo dá a ela direito a voto no Vaticano. — Foto: FRANCESCO PISTILLI/via BBC

‘Porta fechada’

A Igreja Católica considera essas ordenações não apenas ilícitas, mas também inválidas.

Depois que veio a público a história das Sete do Danúbio, o então cardeal Joseph Ratzinger (futuro papa Bento 16) declarou que, como as mulheres não mostraram sinais de arrependimento “pela mais séria ofensa que cometeram, elas incorreram em excomunhão”.

O próprio papa Francisco determinou que as mulheres não devem ser padres. Em 2016, quando questionado se havia alguma possibilidade de mudança, ele indicou um documento de 1994, do papa João Paulo 2°, afirmando que a “porta está fechada” para a ordenação das mulheres. Francisco afirma que o documento “permanece vigente”.

A freira francesa Nathalie Becquart trabalha em um escritório na Cidade do Vaticano, com uma fotografia sua com o papa Francisco atrás dela. Em fevereiro de 2021, ela foi a primeira mulher a ser indicada como Subsecretária do Sínodo dos Bispos, um organismo consultivo do papa.

A irmã Becquart explica de forma simples a posição atual sobre as mulheres padres: “para a Igreja Católica, neste momento, do ponto de vista oficial, esta questão não está em aberto”.

“Não é apenas questão de sentir o chamado para o sacerdócio, é sempre o reconhecimento de que a Igreja irá chamar você para ser padre”, segundo ela. “Por isso, sua decisão ou sentimento pessoal não é suficiente.”

A irmã Becquart é uma das poucas mulheres que ocupam cargos importantes no pontificado do papa Francisco. Sua posição a torna a primeira mulher com direito a voto no Vaticano.

Ela acredita que existe uma evolução acontecendo, que permite que mais mulheres assumam cargos de liderança. Mas esses cargos “não são relacionados à ordenação”.

“Acho que precisamos ampliar nossa visão da Igreja. Existem muitas, muitas, muitas formas para que as mulheres sirvam à Igreja”, afirma a irmã Becquart. Mas ela também observa que as mudanças nunca são fáceis e sempre enfrentam “medos e resistência”.

Anne Tropeano defende a 'expansão do símbolo do padre católico romano para incluir o corpo da mulher' — Foto: ANNE TROPEANO/via BBC
Anne Tropeano defende a ‘expansão do símbolo do padre católico romano para incluir o corpo da mulher’ — Foto: ANNE TROPEANO/via BBC

O que diz a Igreja Católica?

  • A doutrina católica, ou sua interpretação legal, indica o sacerdócio como sendo prerrogativa dos homens, afirmando que “somente homens batizados recebem a ordenação sagrada de forma válida” (Cânone 1024).
  • Uma versão revisada do direito canônico de 2021 (Cânone 1379) criminalizou explicitamente o fornecimento de ordenações sagradas às mulheres latae sententiae – expressão legal que significa que a penalidade é incorrida automaticamente, sem necessidade de julgamento.
  • O papa Francisco inicialmente pareceu aberto à possibilidade da ordenação de mulheres como diáconas, que não podem celebrar missas, mas podem realizar funerais, batizar e testemunhar casamentos.
  • Em uma mudança sem precedentes, o papa Francisco pediu a católicos comuns suas opiniões sobre o futuro da Igreja Católica, em um processo de consulta conhecido como Sínodo sobre a Sinodalidade, que levou dois anos. E, em uma ação que chegou às manchetes, o Vaticano incluiu contribuições da Conferência para a Ordenação das Mulheres no website do Sínodo.
  • Um recente documento de trabalho indica que o papel das mulheres na Igreja Católica será importante na agenda quando os bispos se reunirem em Roma no próximo mês de outubro, para discutir os resultados da consulta.
  • A irmã Nathalie Becquart declarou que, “ao longo do Sínodo sobre a Sinodalidade, continuaremos a observar e o papa irá verificar qual será o próximo passo.”

Uma forma diferente

No silêncio da catedral, Anne Tropeano aproxima-se da nave, de frente para sua bispa e exclama, cheia de emoção: “aqui estou, estou pronta”.

Ela esperou por esse dia por 14 anos. A cerimônia de “ordenação” segue liturgia similar à dos homens que se tornam padres católicos – incluindo a deposição das mãos e a oração de consagração.

Durante a cerimônia, a bispa Bridget Mary Meehan ergue os braços de Tropeano e a apresenta à congregação, que a aplaude. A “recém-ordenada” Anne afirma que se sente “abraçada”.

Tropeano orgulha-se de ficar à frente de um ministério diferente, com mais participação e menos hierarquia – e também aberto a grupos tradicionalmente questionados pela Igreja Católica.

“A ninguém se recusa a comunhão”, afirma ela. “Seja você divorciado ou não, nada disso importa. Todos são bem-vindos, as pessoas LGBTQ são bem-vindas à mesa.”

Olga Lucía Álvarez também considera que o sacerdócio feminino é uma oportunidade de redefinir a relação entre os leigos católicos e seus representantes no altar.

Existe uma oportunidade no estado atual da Igreja Católica, segundo a bispa colombiana, considerando o declínio do número de vocações e os escândalos de abuso sexual dos clérigos, que prejudicou seriamente a confiança nos padres.

“Como eles podem afirmar que são os únicos representantes de Deus na Terra? Eles não têm vergonha”, afirma ela sobre a série de alegações de abusos em todo o mundo.

O papa Francisco pediu desculpas às vítimas de abusos sexuais cometidos pelos clérigos e condenou a “cumplicidade” da Igreja Católica ao ocultar os “graves crimes” cometidos.

The Women's Ordination Conference lobbies to change Vatican rules — Foto: WOMEN'S ORDINATION CONFERENCE/via BBC
The Women’s Ordination Conference lobbies to change Vatican rules — Foto: WOMEN’S ORDINATION CONFERENCE/via BBC

Álvarez considera que o ministério feminino é uma resposta. Com 80 anos de idade, ela se dedica a orientar mulheres mais jovens que esperam a ordenação.

“É urgente mostrar outra face do sacerdócio”, afirma ela. “Não podemos deixar a história se repetir.”

O movimento pela ordenação das mulheres pede um debate aberto sobre a proibição. Elas confiam em ter o apoio dos leigos católicos.

No Brasil, que tem a maior população católica da América Latina, quase oito em cada dez católicos apoiam as mulheres padres, segundo uma pesquisa do centro norte-americano Pew Research Center, realizada em 2014. E, segundo a mesma pesquisa, esse índice é de seis em cada dez nos Estados Unidos.

Mas o movimento de ordenação das mulheres ainda não decolou na África, que é a região onde a população católica mais cresce no planeta.

Quando o assunto é a possibilidade de mudança, Tropeano apela para que o próprio papa inicie o diálogo.

“Você precisa ter uma audiência com mulheres que sentem o chamado para o sacerdócio”, afirma ela. “Tenham elas sido ‘ordenadas’ como parte do movimento ou não, você precisa ouvir a nossa experiência e considerá-la nas suas orações.”

A luta pela ordenação das mulheres para o sacerdócio ainda parece ser longa, mas Tropeano acredita que ela é vital para o futuro da Igreja Católica.

“A Igreja não será capaz de concluir sua missão, a menos que haja participação igualitária”, segundo ela. “No momento, nada é mais importante.”

Esta reportagem faz parte do especial BBC 100 Women, que todos os anos destaca 100 mulheres inspiradoras e influentes ao redor do mundo.

Fonte: BBC News

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Brittney Griner é libertada na Rússia

Em uma troca de prisioneiros inédita entre os Estados Unidos e a Rússia, a jogadora de basquete dos Estados Unidos Brittney Griner, presa na Rússia desde o início do ano, foi solta nesta quinta-feira (8), informou o governo dos Estados Unidos.

Griner, que estava presa desde o início do ano acusado de porte ilegal de substância contendo cannabis ao entrar no aeroporto de Moscou, foi trocada por um traficante de armas russo que estava preso nos Estados Unidos.

Brittney Griner foi condenada na Rússia a 9 anos de prisão por porte de drogas e contrabando — Foto: Evgenia Novozhenina/Reuters
Brittney Griner foi condenada na Rússia a 9 anos de prisão por porte de drogas e contrabando — Foto: Reuters

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, afirmou que falou com a jogadora de basquete por telefone, que ela já foi solta e está sob custódia de autoridades norte-americanas a caminho do país.

Campeã da NBA norte-americana, Griner havia sido condenada a nove anos de prisão, uma pena que Washington chamou de arbitrária. Desde seu julgamento, no entanto, o governo norte-americano já negociava com Moscou uma troca de prisioneiros para conseguir libertar a atleta, que também jogava em uma equipe da Rússia.

O presidente dos EUA, Joe Biden, e a esposa de Brittney Griner, Cherelle Griner, conversam com Britney Griner pelo telefone após ela ser solta na Rússia — Foto: POTUS/Twitter
O russo Viktor Bout, acusado de ser traficante de armas, é escoltado após uma audiência em um tribunal criminal em Bangcoc em 5 de outubro de 2010 — Foto: REUTERS/Sukree Sukplang
O russo Viktor Bout, acusado de ser traficante de armas, é escoltado após uma audiência em um tribunal criminal em Bangcoc em 5 de outubro de 2010 — Foto: REUTERS/Sukree Sukplang

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Barco brasileiro que transportava 4,6 toneladas de cocaína é interceptado pela Marinha da França

Uma pequena embarcação brasileira transportando mais de 4,6 toneladas de cocaína no valor de 150 milhões de euros (cerca de R$ 824 milhões) foi interceptada pela Marinha francesa, afirmou a Europol, a polícia da União Europeia, nesta quarta-feira (7).

A Europol disse que a o barco, que estava a caminho da Europa, foi interceptado em 30 de novembro na costa de Serra Leoa, após trabalho conjunto de inteligência da França, Brasil, Reino Unido e Estados Unidos.

Ainda de acordo com a Europol, a Polícia Federal do Brasil participou das investigações, junto da Polícia Nacional da França, da Agência Nacional de Crimes do Reino Unido e da DEA, a agência antidrogas dos Estados Unidos, além do Centro de Crimes Organizados da Europol.

A embarcação, de acordo com a Marinha francesa, é um barco pesqueiro de 68 pés – com algo em torno de 21 metros de comprimento. Até a última atualização desta notícia, a Europol não havia informado se os tripulantes eram brasileiros e para onde elas foram levados.

“Uma investigação está em andamento para identificar os grupos criminosos envolvidos em ambos os lados do Oceano Atlântico”, disse a polícia da UE em comunicado.

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Explosão no Afeganistão deixa 16 mortos e 24 feridos

16 pessoas morreram e outras 24 ficaram feridas nesta quarta-feira (30) por uma explosão em uma madraça (escola islâmica) na cidade de Aybak, no norte do Afeganistão, informou um médico de um hospital local.

O médico desta cidade, localizada cerca de 200 quilômetros ao norte da capital Cabul, informou que as vítimas são, em sua maioria, jovens.

“São todos crianças e pessoas comuns”, disse à AFP o médico de um hospital desta cidade, capital da província de Samangan, e que pediu para não ser identificado.

Não houve reivindicação imediata de responsabilidade. Mas a afiliada afegã do grupo Estado Islâmico vem travando uma campanha de violência que aumentou desde que o Talibã assumiu o poder em agosto de 2021.

O EI realizou bombardeios visando em particular a minoria muçulmana xiita do Afeganistão, mas também alvejou mesquitas e madraças sunitas, especialmente aquelas ligadas ao Talibã.